Carol Norris
30 de agosto de 2002
CounterPunch
Tradução Imediata
Recentemente, a McDonald's lançou um novo produto na Noruega, um búrguer em pão sírio: o "McAfrika".
E com isso, eles criaram sem querer uma metáfora sucinta para a inquestionável tomada do poder na Terra pelas corporações – país por McPaís, continente por McContinente. Fico pensando se a McDonald’s, seus arcos como um grande e dourado bucho partido, devorando a participação de mercado de búrgueres de um país depois do outro, enquanto digere um pedaço da cultura de outro continente, criou esse produto para honrar os 12 milhões de africanos que fazem todo o possível para deter a inenarrável fome, ou prestar homenagem aos milhões que estão morrendo de AIDS, ou talvez para dar um aceno ao número crescente de pessoas deixadas sem água limpa, pública e potável. Fica difícil dizer.
E eu pensei na Disney, colocando a Electricland Parade na Califórnia bem durante os apagões do ano passado, de modo que todos nós, os Apagados, privados intermitentemente de energia, pudéssemos ter uma visão dos altos abelhões cobertos de lâmpadas… era uma justaposição desastrada. Pelo menos a McDonald’s teve a decência de fazer o lançamento na Noruega, longe de todo o sofrimento africano, que é de tirar qualquer apetite. A Disney fez isso bem na Califórnia. Mas ninguém disse uma palavra sobre o fato, pelo menos que eu saiba; ao contrário da Noruega, onde pessoas da Cruz Vermelha da Noruega e do Socorro Cristão Norueguês perceberam a incongruência. Esses grupos confrontaram a McDonald’s e se encontraram com seus representantes para discutir a questão e a possibilidade de compartilhar as receitas das vendas com as organizações de auxílio à África. Não deu em nada, ainda. Talvez você, leitor, possa visitar o site da McDonald’s e enviar para eles a sugestão numa mensagem eletrônica.
Tá bom, tá bom, já sei. Porque não ver que o copo está pela metade cheio? O McAfrika poderia ser saudado como uma celebração da África e das maravilhosas novas possibilidades que sua rica cultura pode oferecer ao búrguer de ingredientes ‘trancados’. Os africanos deveriam estar contentes e orgulhosos, enquanto ficam na fila para receber seu biscoito de proteína diário de emergência. É possível que todos eles fiquem tão satisfeitos com a dose cavalar de ironia, que nem precisem mais do biscoito.
Esta não é uma iniciativa contra a McDonald’s. É só que agora está acontecendo com a McDonald’s. Mas poderia muito bem ser qualquer outra corporação multinacional fazendo algo similar. A única coisa que eu posso imaginar é que talvez o pessoal da McDonald’s não saiba o que está acontecendo na África, como o cara que mora na minha rua e que todos os dias, por vinte e cinco minutos, dá uma de pastor conduzindo o rebanho de tocos de cigarros da calçada para dentro do bueiro, e isso com a cada vez mais preciosa água que sai pelo esguicho preso à torneira de seu jardim. Ele não sabe que há uma terrível seca em todo o sudeste do país, sem falar na crise de água potável nos países em desenvolvimento e talvez, em breve, no mundo todo. Ou como a minha vizinha que usa uma mamadeira descartável para alimentar seu bebê, usa fraldas e panos descartáveis para limpá-lo enquanto usa esfregões descartáveis para limpar a sujeira do chão e depois lava o seu rosto e mãos com ‘lenços de limpeza’ descartáveis, e que tem a coragem de me dizer: ‘ Mas credo, não é como se eu estivesse jogando plutônio, no lixo…’
Então fiquei pensando: enquanto nos apropriamos de um pouco da cultura de amplas massas da terra, criando búrgueres para os lucros das corporações, gostaria de oferecer algumas sugestõezinhas minhas, pessoais, para novos sanduíches:
McMéxico Búrguer: Feito numa fábrica de propriedade americana, transferida para o México. Inclui uma deliciosa tortilla de milho geneticamente modificado, embalado a mão por mãos mexicanas. Não se preocupe! Os sindicatos foram banidos! E, você sabe o que isso quer dizer: condições de trabalho muito mais baixas e salários abaixo do nível de sobrevivência. E isso significa preços vergonhosamente reduzidos para você! Não deixe de comprar o seu, enquanto durarem os búrgueres e os trabalhadores! [Também conhecido, afetuosamente, por alguns, como McNAFTA Búrguer.]
McVenezuela Búrguer: Delicioso, Mas você pode obtê-lo só se, secretamente, instigar a Direita Venezuelana para ficar do seu lado, e se ela conseguir, com sucesso, destituir o Gerente de Turno democraticamente eleito. [Reservado somente aos oficiais de governo americanos.]
McPaís em Desenvolvimento Búrguer: Búrguer básico. É servido com um copo de $19, 6 oz. de água recentemente privatizada. [O copo e o alívio da dívida são vendidos separadamente e só para aqueles que tiverem uma prova de contrato com uma das grandes companhia de água, devidamente endossado pelo Banco Mundial/FMI. Sem exceção.] Parte da única água não-contaminada que sobra no país!!! Oferta de prazo limitado. Oferta válida enquanto o suprimento de água existir. Propinas são bem-vindas.
McEixo do Mal Búrguer: [Também chamado McAdmirável Mundo Novo Búrguer.] Inclui como bônus um ingrediente absolutamente GRÁTIS: Valium. Pois é, mais uma ideiazinha dos altos escalões militares dos bons e velhos EUA para abrandar o mal que existe mundo afora. Oferta limitada a populações grandes, hostis e a bandidos devidamente certificados. Sim, o McJusto, como o País do Mal, Mas Estrategicamente Importante e Portanto Nosso Amigo Búrguer tem exatamente os mesmos ingredientes do McEixo do Mal Búrguer. Desculpem, mas a oferta está completamente esgotada.
McIraque Búrguer: Basicamente, só um pão bem fino, de onde goteja muito e muito óleo. Todos os outros ingredientes foram sancionados. Sabemos que os ocidentais estão morrendo de vontade de cravar os dentes nesse pão. Lembrem-se, o Iraque se reserva o direito de recusar serviço a quem quer que seja.
McInglaterra Burger: Do tipo meio insosso. Ordens especiais? Contem conosco, seja o que for que vocês desejarem. É só dizer o que querem! A sua lealdade é importante para nós! [Esta oferta está limitada aos detentores de poder americanos, somente.]
McUSA Burger: Oferecido somente nos EUdA. Pasteurizamos o bife! [O.K., irradiamos o bife. Po-TAY-to, Po-TAH-to. Seja o que for.] Se o seu orçamento for apertado e você faz só $5,15 por hora, o salário mínimo federal que o congresso congelou já faz algum tempo, ligue para o seu representante no Congresso e peça a ele/ela para convidá-lo para o almoço. Porque, ao contrário do que eles fizeram com você, eles acabam de votar para que o salário deles seja aumentado. Eles devem estar cheios de grana. Em breve, será feito com ingredientes 100% geneticamente modificados, e propositalmente não divulgados na propaganda da composição alimentar. Delícia! É servido com uma porção de batatas fritas vegetarianas fervidas em caldo de carne. Embrulhado numa bandeira americana descartável e biodegradável. Mas, veja bem, você pode pedir o que quiser, este é um país livre, ninguém irá deter você. Só tome muito, muito cuidado para pedir coisas que estejam a nosso favor, e não contra nós. Mas pense bem, não vai fazer qualquer diferença o que você pedir, porque com aquela nova tecnologia do MIT que permite falsificar imagens, podemos filmar você com nossas câmaras e com um pouquinho de alteração digital podemos fazer parecer que você ordenou exatamente Uma Arma Extra-Grande de Destruição Maciça e um acompanhamento de Antrax.
Bon appétit!
McCarol McNorris é uma escritora freelancer.
CounterPunch
August 30, 2002
"Eat All of Your McAfrika Burger, Honey, Because I Have a Funny Feeling There Might be Starving People Out There Somewhere"
by Carol Norris
McDonald's recently launched a new burger-in-a-pita product in Norway: The "McAfrika."
And with this they have inadvertently created a brilliantly succinct metaphor for the increasingly blatant corporate takeover of the Earth - country by Mccountry, continent by Mccontinent. I wonder if McDonald's, its arches a great, snapping, golden maw, gobbling up one country's burger market share while digesting a bit of another continent's culture, created this product to honor the 12 million Africans doing their best to stave off unspeakable famine, or to pay tribute to the millions dying of AIDS, or perhaps to give a nod to the ever-growing numbers left without clean, public drinking water. It's tough to say.
And I thought Disney putting on an Electricland Parade in California during last year's blackouts so that all of us Blackouters, intermittently bereft of electricity, could get a little glimpse of 20 foot tall, light-bulb covered bumblebees was a gauche juxtaposition. At least McDonalds had the decency to do it in Norway, away from all that unappetizing African suffering. Disney did it right here in California. But, nobody said a word about it as far as I can tell; unlike in Norway where some people like the Norwegian Red Cross and Norwegian Church Aid have seen the incongruity. These groups have confronted McDonald's and met with its representatives to discuss the issue and the possibility of sharing proceeds of its sales with the aid agencies helping Africans. Nothing yet. Maybe you should go to McDonald's website and email this suggestion to them.
Yes, yes, I know. See the cup half full. The McAfrika could be hailed as a celebration of Africa and the wonderful new possibilities it's rich culture can offer the ingredient-locked hamburger. Africans should be happy and proud as they wait in line for their daily emergency protein biscuit. Maybe they will all be so full from the heaping dose of irony, they won't even need it.
This is not an invective against McDonald's. It just happens to be McDonald's. It could just as easily be any other multinational corporation doing something similar. The only thing I can figure is that maybe the people at McDonald's don't know what is going on in Africa, just like the guy down the street from me who herds those three pesky cigarette butts off the sidewalk into the gutter for twenty-five minutes every day with increasingly precious water spewed from his garden hose doesn't know there is a huge drought going on in the Southwest, not to mention the clean water crisis in developing countries and soon, perhaps, the world. Or just like my neighbor who uses a disposable bib on her kid and then cleans him up with disposable baby wipes and then changes his disposable diapers while using disposable mop covers to clean the mess on the floor and then afterward washes her face and hands with disposable 'cleansing cloths' says to me 'it's not like I'm throwing away plutonium, for chrissakes.'
So, I was thinking: as long as we are appropriating a little culture from large land masses, creating yummy burgers for corporate gain, I'd like to offer a few burger suggestions of my own:
McMexico Burger: Made in an American-owned factory relocated to Mexico. Includes a yummy GMO corn tortilla hand wrapped by Mexicans. Don't worry, no unions allowed! And, you know what that means: lower labor standards and sub-living wages. And that equals dirt-cheap prices for you! Get yours while the burgers and the workers last! [Also affectionately known by some as the McNAFTA Burger.]
McVenezuela Burger: Delicious. But, you can only get it if you secretly abet the Venezuelan Rightist in line with you and he is able to successfully oust the democratically elected Shift Manager. [Limited to American government officials only.]
McDeveloping Country Burger: Basic burger. Comes with a $19, 6 oz. cup of newly privatized water. [Cup and debt relief sold separately and only for those who have proof of a World Bank/IMF-endorsed contract with a big water company. No exceptions.] Some of the only uncontaminated water left in the country!! Time limited offer. Offer while water supplies last. Bribes welcome.
McEvil Axis Burger: [Also called the McBrave New World Burger.] Includes an absolutely FREE Bonus Ingredient: Valium. Yep, just another idea American military chiefs here in the ole' US are reportedly thinking about to mellow out the evil out there. Offer limited to large, hostile populations and certified evildoers only. Yes, the McJust as Evil Country, But Strategically Important and Therefore Our Friend Burger has the exact same ingredients as the McEvil Axis Burger. Sorry, but we've completely sold out.
McIraq Burger: Basically, just some flat bread dripping in lots and lots and lots of oil. All the other ingredients have been sanctioned. We know Westerners are just dying to sink their teeth into this one. Remember, Iraq reserves the right to refuse service to anyone.
McEngland Burger: Kinda bland. Special orders? We'll take 'em, whatever you want. Just tell us what you want! Your loyalty is important to us! [This offer is limited to American power holders only.]
McUSA Burger: Offered only in the USofA. We use pasteurized beef! [Okay, alright, irradiated beef. Po-TAY-to, Po-TAH-to. Whatever.] If your budget is tight and you only make $5.15 an hour, the federal minimum wage that congress has frozen for a while now, phone your congressperson and ask him/her to take you out to lunch. Because, unlike what they've done for you, they just voted themselves their yearly pay raise. They should all be pretty flush with cash. Soon to be made with 100% unadvertised, genetically modified ingredients. Yum! Comes with a side of beef-broth flavored vegetarian fries. Wrapped in a disposable, non-biodegradable American flag. But, really, order whatever you want, it's a free country; nobody's stopping you. Only be very, very careful to order things that are with us, not against us. Come to think of it, it doesn't really matter what you order because with that new technology out of MIT that can falsify images, we can film you on our cameras and with a little digital alteration we can make it look exactly like you ordered an Extra-Large Weapon of Mass Destruction and a side of Anthrax.
Bon appetit!
McCarol McNorris is a freelance writer.