Contra o livre comércio

 

 


Heinz Dieterich Steffan
Rebelion

4 de agosto de 2002

Tradução Imediata

A discussão sobre a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que submeterá a América Latina no ano 2005 às diretrizes comerciais concebidas por Washington, é parte de um debate que dura há mil anos sobre as vantagens e as desvantagens do livre comércio. A partir do 12 de outubro de 1492, que faz nascer a sociedade global, o tema se torna universal. Hoje em dia, a disputa assume tons dramáticos na América Latina, porque na assimilação ou negação da ALCA decide-se o futuro da Pátria Grande. Ou será um novo sujeito histórico no mesmo nível dos blocos europeus e estadunidenses, ou será uma segunda África. Não há uma terceira opção.

O debate tem levado, de um modo geral, à formação de duas coalizões: a) a apologética, constituída pelos ideólogos das potências dominantes e os tontos e oportunistas dos países dominados. E, frente a este bloco dos freetraders, b) os nacionalistas que professavam defender as opções econômicas nacionais mediante o proteccionismo desenvolvimentista, junto com os intelectuais honestos que simplesmente não estavam dispostos a aceitar a hipocrisia e o dogmatismo interessado dos ideólogos hegemônicos.

A experiência mais importante deste debate se produziu entre a economia política clássica elaborada pelos ingleses Adam Smith, Thomas R. Malthus, David Ricardo e o francês Jean Baptiste Say, e o economista político alemão Friedrich List, no fim do século XVIII e começo do XIX. O ponto de disputa residia na estratégia econômica que poderia tirar a Alemanha de seu estado de subdesenvolvimento industrial. Os "clássicos" insistiram que a sua doutrina de desenvolvimento através da poupança, do esforço do trabalho e do livre comércio era o único veículo capaz de superar o atraso e elevar a nação germânica à posição da indisputada supremacia econômica, comercial e militar da Grã Bretanha.

List estava de acordo em usar a receita britânica de desenvolvimento. Contudo, não aquela que seus apologistas predicavam em seus sermões dominicais e universitários, mas a real, a oculta, que havia convertido à empobrecida ilha do Mar do Norte na "oficina do mundo", através do emprego sistemático do poder político, militar e econômico do país em uma praxis de colonialismo, protecionismo e exploração dos povos "bárbaros". Esse era o método que a elite do império britânico e sua monarquia haviam utilizado para conquistar o mundo e essa era a lição econômica real e verdadeira que a elite alemã devia aprender e copiar, se quisesse impedir um destino de país subdesenvolvido.

No caso de Smith, Malthus e Ricardo, tratava-se de ideólogos dos agentes econômicos da Grã Bretanha, dizia List, que ignoravam ou distorciam a política mercantil da Coroa, porque era incompatível com o seu idílico conto do diligente puritano, que além de mais uma escapadela ao bordel vitoriano não se permitia qualquer luxo, porque estava freneticamente dedicado a produzir, poupar e acumular o capital. E tinha razão o protagonista do capitalismo de Estado alemão, porque desde a constituição do moderno estado inglês na ditadura desenvolvimentista de Oliver Cromwell ---tal como tinha se manifestado na Ata de Navegação (1651) e o monopólio da East India Company (a Companhia das Índias Orientais)--- até os dias do encantador Tony Blair, a única política real de crescimento econômico tem sido o capitalismo protecionista de Estado.

Os "três mosqueteiros" da ideologia imperial inglesa, cujo produto continua sendo o "ópio dos estudantes" nas torres de marfim da academia que impede que a juventude estude a realidade de seus países, tinham boas razões para inventar as bondades da teoria abstrata do capital, baseada nas ficções da mercadoria como abstractum e das insuperáveis virtudes do livre comércio como meio de progresso para os bárbaros e de aproximação da humanidade à république du globe (República Global) de Say, deixando fora de seus harmoniosos modelos a indescritível destruição e brutalidade com a qual os europeus estavam se enriquecendo, às custas dos povos do mundo inteiro.

Thomas Robert Malthus, o devoto vigário a quem o Senhor tinha castigado com tentações fascistóides irreprimíveis contra os pobres, tinha estudado no Jesus College da Universidade de Cambridge e ganhava a vida dando cátedras de Economia política e História moderna no Colégio da East India Company, um dos piores assassinos coletivos do governo de Sua Majestade em Londres. Adam Smith, o inventor da "mão invisível" do mercado capitalista, preferia não ganhar a vida confiando na bondade de seu invento, mas assegurar-se o sustento pelas mãos visíveis do Estado, como comissário de alfândega, catedrático de filosofia moral e economia na Universidade de Oxford ou como tutor da aristocracia. David Ricardo, por sua vez, cuja "lei" das vantagens comparativas é muito útil para eternizar a situação dos países neocoloniais e, portanto, constitui um artigo sagrado dentro da teologia econômica dos clássicos e neoclássicos, era uma espécie de George Soros precoce, porque suas atinadas especulações na bolsa o converteram, na tenra idade de 25 anos, em um homem abastado.

À luz desses fatos, os alemães e o seu protagonista Friedrich List fizeram muito bem em não importar o software dos ideólogos e beneficiários da doutrina de desenvolvimento econômico inglesa, centrada demagogicamente no livre comércio; substituindo-a com uma teoria histórica do capital que ---há duzentos anos(!)---proporcionou-lhes a informação e a lógica necessárias para descobrir a única estratégia de acumulação capitalista capaz de superar o subdesenvolvimento e o neocolonialismo das potências dominantes. Se não tivessem feito isso, ainda estariam exportando batatas.

Alguma elite na Pátria Grande tomará nota e emulará o exemplo da Alemanha subdesenvolvida? E se não o fizer, quem o fará?

 

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4 de agosto del 2002

Contra el libre comercio

Heinz Dieterich Steffan

La discusión sobre el Area de Libre Comercio de las Américas (ALCA) que someterá a América Latina en el año 2005 a los instructivos comerciales diseñados por Washington, es parte de un debate de miles de años sobre las ventajas y desventajas del libre comercio. A partir del 12 de octubre de 1492, que hace nacer a la sociedad global, el tema se vuelve universal. Hoy día, la disputa asume tonos dramáticos en América Latina, porque en la asimilación o negación del ALCA se decide el futuro de la Patria Grande. O será un nuevo sujeto histórico al nivel de los bloques europeos y estadounidenses, o será una segunda Africa. No hay tercer opción.

El debate ha llevado, por lo general, a la formación de dos coaliciones: a) la apologética, constituida por los ideólogos de las potencias dominantes y los tontos y oportunistas de los países dominados. Y, frente a este bloque de los freetraders, b) los nacionalistas que profesaban defender las opciones económicas nacionales mediante el proteccionismo desarrollista, junto con los intelectuales honestos que simplemente no estaban dispuestos a aceptar la hipocresía y el dogmatismo interesado de los ideólogos hegemónicos.

La experiencia más importante de este debate se produjo entre la economía política clásica elaborada por los ingleses Adam Smith, Thomas R. Malthus, David Ricardo y el francés Jean Baptiste Say, y el economista y político alemán Friedrich List, a finales del siglo XVIII y principios del XIX. El punto de disputa radicaba en la estrategia económica que pudiera sacar a Alemania de su estado de subdesarrollo industrial. Los "clásicos" insistieron en que su doctrina de desarrollo a través del ahorro, del esfuerzo laboral y del libre comercio, era el único vehículo capaz de superar el atraso y elevar a la nación germánica al rango de la indisputada supremacía económica, comercial y militar de Gran Bretaña.

List estaba de acuerdo en usar la receta británica de desarrollo. Sin embargo, no aquella que sus apologistas predicaban en sus sermones dominicales y universitarios, sino la real, la oculta, que había convertido a la empobrecida isla del Mar del Norte en el "taller del mundo", mediante el empleo sistemático del poder político, militar y económico del país en una praxis de colonialismo, proteccionismo y explotación de los pueblos "bárbaros". Ese era el método que la elite del imperio británico y su monarquía habían utilizado para conquistar al mundo y esa era la lección económica real y verdadera que la elite alemana debía aprender y copiar, si quería impedir un destino de país subdesarrollado.

En el caso de Smith, Malthus y Ricardo, se trataba de ideólogos de los agentes económicos de Gran Bretaña, decía List, que ignoraban o distorsionaban la política mercantil de la Corona, porque era incompatible con su idílico cuento del diligente puritano, quien más allá de una que otra escapada al burdel victoriano no se permitía lujo alguno, porque estaba frenéticamente dedicado a producir, ahorrar y acumular el capital. Y tenía razón el protagonista del capitalismo de Estado alemán, porque desde la constitución del moderno estado inglés en la dictadura desarrollista de Oliver Cromwell ---tal como se había manifestado en el Acta de Navegación (1651) y el monopolio de la East India Company--- hasta los días del encantador Tony Blair, la única política real de crecimiento económico ha sido el capitalismo proteccionista de Estado.

Los "tres mosqueteros" de la ideología imperial inglesa, cuyo producto sigue siendo el "opio de los estudiantes" en las torres de marfil de la academia que impide que la juventud estudie la realidad de sus países, tenían buenas razones para inventar las bondades de la teoría abstracta del capital, basada en las ficciones de la mercancía como abstractum y de las insuperables virtudes del libre comercio como medio de progreso para los bárbaros y del acercamiento de la humanidad a la république du globe (República Global) de Say, dejando fuera de sus armoniosos modelos la indescriptible destrucción y brutalidad, con la cual los europeos se estaban enriqueciendo a costa de los pueblos del mundo entero.

Thomas Robert Malthus, el piadoso cura a quién el Señor le había castigado con tentaciones fascistoides irreprimibles contra los pobres, había estudiado en el Jesus College de la Universidad de Cambridge y se ganaba la vida dando cátedras de Economía política e Historia moderna en el Colegio de la East India Company, uno de los peores asesinos colectivos del gobierno de Su Majestad en Londres. Adam Smith, el inventor de la "mano invisible" del mercado capitalista, prefería no ganarse la vida confiando en la bondad de su invento, sino asegurarse su sustento por las manos visibles del Estado, como comisario de aduanas, catedrático de filosofía moral y economía en la Universidad de Oxford o como tutor de la aristocracia. David Ricardo, a su vez, cuya "ley" de las ventajas comparativas es muy útil para eternizar la situación de los países neocoloniales y, por lo tanto, constituye un artículo sagrado dentro de la teología económica de los clásicos y neoclásicos, era una especie de George Soros precoz, porque sus atinadas especulaciones en la bolsa lo convirtieron a la tierna edad de los 25 años en un hombre acaudalado.

A la luz de esos hechos, los alemanes y su protagonista Friedrich List hicieron muy bien, en no importar el software de los ideólogos y beneficiarios de la doctrina de desarrollo económico inglesa, centrada demagógicamente en el libre comercio; sustituyéndola, con una teoría histórica del capital que ---hace doscientos años(¡!)--- les proporcionó la información y la lógica necesaria, para descubrir la única estrategia de acumulación capitalista capaz de superar el subdesarrollo y el neocolonialismo de las potencias dominantes. Si no lo hubieran hecho, todavía estarían exportando papas.

¿Alguna elite en la Patria Grande tomará nota y emulará el ejemplo de la Alemania subdesarrollada? Y si no lo hace, ¿quién lo hará?

 

 

 

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