ALCA agravará dependência externa da América Latina

 

 


Alfredo J. Gonçalvez
ADITAL

10 de julho de 2002

Tradução Imediata

Recentes análises revelaram a inviabilidade de um acordo entre economias tão díspares como o dos Estados Unidos, por um lado, e os países latino-americanos e caribenhos, por outro, como se propõe com a Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA). A diferença abismal entre os países arruína qualquer possibilidade de negociação que mereça este nome. Como colocar no mesmo campo de batalha forças tão assimétricas? É evidente que se trata de um jogo de cartas marcadas. É uma competição desigual e desleal na qual os fortes tendem a fortalecer-se mais e os débeis a se tornarem mais fracos.

A possibilidade de aprovação da ALCA constitui uma ameaça suspensa sobre nossas cabeças. Mais que de "livre comércio", deve-se falar de anexação ou neocolonialismo, onde os representantes da nova metrópole traçam regras unilaterais para defender seus interesses. Mais que de tratado, estamos ante uma imposição do norte sobre os países empobrecidos do sul.

Mais que negociação, o que está em jogo são as estratégias econômicas, financeiras e militares do Império. Esta situação agrava ainda mais a dependência externa da América Latina em relação com o capital financeiro, compromete o destino dos povos e aprofunda as dívidas sociais dos setores excluídos da população. Os governos e as elites nacionais, ao mesmo tempo cúmplices, reféns e capatazes dos mega-investidores internacionais, rezam o catecismo do FMI, enquanto empreendem lutas encarniçadas para perpetuar-se no poder.

As conseqüências da ALCA já são conhecidas. Entre elas podemos destacar a não utilização e o declínio da pequena produção nacional, tanto na agricultura como nas micro e média empresas; a precariedade cada vez mais grave dos serviços públicos de saúde, educação, moradia, reforma agrária, entre outros. Se o estado-nação já vem sendo desarmado pela avalancha neoliberal, a ALCA acabará por asfixiar completamente qualquer tentativa de retomar as políticas públicas, levando os governos às medidas compensatórias.

Em segundo lugar e como conseqüência destas medidas, o aumento do desemprego. A falência em série de inumeráveis iniciativas familiares, por exemplo, e das empresas de pequeno porte deverão jogar muita gente nas ruas para disputar as migalhas do mercado informal.

Os dois fatores mencionados conduzem a um terceiro: o deslocamento de grande parte da população, seguido de migrações massivas, agravadas pela situação de clandestinidade para os migrantes ilegais e pelas barreiras à circulação de trabalhadores. Se o capital e as mercadorias são livres para ir e vir, o mesmo não ocorre com o trabalho.

Enfim, não se pode esquecer a depredação e o desperdício dos recursos naturais e a contaminação do meio ambiente, além da mercantilização e do monopólio indiscriminados da água e das fontes de vida -risco representado pela proliferação dos produtos transgênicos.

 

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