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Iraq War & Archaeology

   

 

Aniquilando civilizações

 

 

Por Chalmers Johnson

Fonte: TomDispatch.com 8 de julho de 2005

Tradução Imediata

Nos meses anteriores à sua ordem de invadir o Iraque, George Bush e seus altos funcionários falaram sobre a necessidade de preservar o "patrimônio" do Iraque para o povo iraquiano. Numa época em que falar sobre o petróleo iraquiano era tabu, o que ele quis dizer com ‘patrimônio’ era exatamente isso — o petróleo do Iraque. Em seu "pronunciamento conjunto sobre o futuro do Iraque" de 8 de abril de 2003, George Bush e Tony Blair declararam: "Reafirmamos nosso compromisso de proteger os recursos naturais do Iraque, como patrimônio do povo do Iraque, o qual deveria ser usado somente para benefício desse povo".[1] Com relação a isso, eles foram fiéis às suas palavras. Na realidade, entre os poucos lugares protegidos pelos soldados americanos no início e durante a sua invasão, foram justamente os campos de petróleo e o Ministério do Petróleo em Bagdá. Mas o verdadeiro patrimônio iraquiano, a inestimável herança humana de milhares de anos, bem, essa é uma outra história. Num período em que os ‘especialistas’ norte-americanos advertiam sobre um futuro "choque de civilizações", nossas forças de ocupação estavam permitindo que, talvez, o maior de todos os patrimônios humanos fosse saqueado e despedaçado.

Temos visto muitas cenas desanimadoras na TV, desde que George Bush lançou sua desafortunada guerra contra o Iraque — as imagens de Abu Ghraib, as ruínas de Faluja, os soldados norte-americanos chutando as portas de residências particulares e apontando rifles contra mulheres e crianças. Mas poucas imagens ecoaram tanto, em termos históricos, como aquelas do saque do museu de Bagdá — ou foram esquecidas mais depressa, neste país.

Ensinando os iraquianos sobre a bagunça da História

Em círculos arqueológicos, o Iraque é conhecido como "o berço da civilização", com um registro cultural datando de mais de 7.000 anos. William R. Polk, fundador do Center for Middle Eastern Studies (Centro de Estudos do Oriente Médio) da Universidade de Chicago, afirma: "Foi lá, na região que os gregos chamavam de Mesopotâmia, que a vida, como a conhecemos hoje, começou: foi lá que o ser humano começou a especular sobre filosofia e religião, desenvolveu conceitos de comércio internacional, transformou idéias de beleza em formas tangíveis e, sobretudo, desenvolveu a habilidade da escrita."[2] Nenhum outro lugar na Bíblia, exceto Israel, tem mais história e profecias associadas a si que a Babilônia, Shinar (a Suméria), e a Mesopotâmia — nomes diferentes para o território que os britânicos, na época da Primeira Guerra Mundial, começaram a chamar de "Iraque", usando o antido termo árabe para as terras do prévio enclave turco da Mesopotâmia (em grego: "entre os rios [Tigre e Eufrates]").[3] A maioria dos primeiros livros do Gênese tem lugar no Iraque (vide, por exemplo, Gênese 10:10, 11:31; como também Daniel 1-4; II Reis 24).

As mais conhecidas civilizações que formam a herança cultural do Iraque são os sumérios, acádios, babilonenses, assírios, caldeus, persas, gregos, romanos, pártias, sassânidas e muçulmanos. Em 10 de abril de 2003, num pronunciamento pela TV, o Presidente Bush reconheceu que o povo iraquiano é "herdeiro de uma grande civilização que contribui para toda a humanidade."[4.] Apenas dois dias depois, sob os olhos complacentes do Exército dos EUA, os iraquianos começariam a perder aquela herança num turbilhão de saques e incêndios.

Em setembro de 2004, num dos poucos relatórios auto-críticos produzidos pelo Departamento de Defesa de Donald Rumsfeld, o "Defense Science Board Task Force on Strategic Communication" (Grupo de Trabalho do Conselho Científico da Defesa sobre Comunicação Estratégica) escreveu: "Os objetivos mais amplos da estratégia dos EUA dependem de separar a vasta maioria composta de muçulmanos não violentos dos militantes radicais jihadistas-islamistas. Mas os esforços dos EUA não somente falharam a esse respeito: eles podem ter realizado o oposto daquilo que pretendiam alcançar."[5] Em nenhum outro lugar esse fracasso é mais aparente do que na indiferença —- mesmo no regozijo —— demonstrado por Rumsfeld e seus generais com relação aos saques de 11 e 12 de abril de 2003, do Museu Nacional de Bagdá e o incêndio do dia 14 de abril de 2003 da Biblioteca e dos Arquivos Nacionais, assim como da Biblioteca dos Corões e do Ministério das Doações Religiosas. Esses eventos foram, segundo Paul Zimansky, arqueólogo da Universidade de Boston, "o maior desastre cultural dos últimos 500 anos". Eleanor Robson, do All Souls College de Oxford, afirmou: "Só voltando para trás muitos séculos, por ocasião da invasão de Bagdá pelos mongóis, em 1258, é que encontramos pilhagens nesta mesma escala."[ 6] Mesmo assim, o Secretário da Defesa Rumsfeld comparou o saque às conseqüências de uma partida de futebol, e encolheu os ombros com o comentário de que: "A liberdade é bagunçada… as pessoas estão livres para cometerem erros e crimes.[7]

O Museu Arqueológico de Bagdá sempre foi considerado como, provavelmente, a mais rica de todas as instituições similares do Oriente Médio. É difícil dizer com precisão o que foi perdido naqueles dias catastróficos de abril de 2003, porque inventários atualizados dos pertences do Museu, muitos dos quais nunca chegaram a ser descritos nas publicações arqueológicas, também foram destruídos pelos saqueadores ou estavam incompletos, em função das condições em que se encontrava Bagdá depois da Guerra do Golfo de 1991. Um dos melhores registros de seus pertences, embora parcial, é o catálogo de itens que o Museu emprestou em 1988 para uma exposição que ocorreu em Nara, antiga capital do Japão, titulada Silk Road Civilizations (Civilizações da Rota da Seda). Mas, como disse um dos funcionários do Museu para John Burns do New York Times depois do saque: "Tudo acabado, tudo acabado. Tudo acabado em dois dias."[ 8]

Um único e indispensável livro, com belas ilustrações, editado por Milbry Park e Angela M.H. Schuster, The Looting of the Iraq Museum, Baghdad: The Lost Legacy of Ancient Mesopotamia (N. do T.: O saque do Museu do Iraque, Bagdá: o legado perdido da Antiga Mesopotâmia) (New York: Harry N. Abrams, 2005), representa a dolorosa tentativa de pouco mais de uma dúzia de arqueólogos especialistas no antigo Iraque de especificar o que havia no Museu antes da catástrofe, onde os objetos tinham sido excavados, e a condição daqueles poucos milhares de itens que foram recuperados. Os editores e autores dedicaram parte dos direitos autorais do livro à Comissão do Estado Iraquiano para as Antigüidades e a Herança Patrimonial do Iraque.

Numa conferência sobre a criminalidade envolvendo obras de arte ocorrida em Londres um ano depois do desastre, John Curtis, do British Museum, reportou que pelo menos a metade dos quarenta objetos mais importantes roubados não tinha sido recuperada e que cerca de 15.000 objetos foram saqueados das prateleiras e depósitos do Museu, 8.000 dos quais ainda não tinham sido encontrados. Sua inteira coleçnao de 5.800 selos cilíndricos e placas de argila com escritas cuneiformes e outras inscrições que remontam à era da descoberta da escrita, também foi roubada.[9] Desde então, como conseqüência de uma anistia para os saqueadores, cerca de 4.000 artefatos foram recuperados no Iraque, e mais de mil peças foram confiscadas nos Estados Unidos.[10] Curtis observou que controles randômicos dos soldados ocidentais que partiam do Iraque levou à descoberta de que vários deles estavam em posse ilegal de antigos objetos. Agentes da alfândega dos EUA encontraram ainda mais. Funcionários na Jordânia apreenderam cerca de 2.000 peças contrabandeadas do Iraque; na França: 500 peças; na Itália: 300; na Síria: 300; e na Suíça: 250. Quantidades inferiores foram apreendidas no Kuwait, na Arábia Saudita, no Irã e na Turquia. Nenhum desses objetos foi enviado de volta a Bagdá até o presente.

As 616 peças que formam a famosa coleção do "ouro de Nimrud", excavada pelos iraquianos no final dos anos 1980, das tumbas das rainhas assírias em Nimrud, a poucas milhas ao sudeste de Mosul, foram salvadas, mas somente porque o Museu tinha secretamente removido as peças para os cofres subterrâneos do Banco Central do Iraque, durante a Primeira Guerra do Golfo. Quando os norte-americanos finalmente foram proteger o Banco em 2003, o edifício não era mais que uma armação de cal e preenchida de vigas retorcidas de metal devido ao colapso do teto e de todos os nove andares que se encontravam debaixo. Não obstante, os compartimentos subterrâneos e seus conteúdos sobreviveram o desastre incólumes. Em 3 de julho de 2003, uma pequena parte da coleção Nimrud foi exibida durante algumas horas, permitindo que um reduzido grupo de funcionários iraquianos a vissem pela primeira vez desde 1990.[11]

A queima de livros e manuscritos na Biblioteca dos Corões e na Biblioteca Nacional foi, em si mesma, um desastre histórico de proporções incalculáveis. A maioria dos documentos imperiais e dos antigos arquivos reais que diziam respeito à criação do Iraque foram reduzidos a cinzas. Segundo Humberto Márquez, escritor venezuelano e autor de Historia Universal de La Destrucción de Los Libros (2004), cerca de um milhão de livros e dez milhões de documentos foram destruídos pelos incêndios de 14 de abril de 2003.[12] Robert Fisk, o correspondente veterano para o Oriente Médio do Independent de Londres, estava em Bagdá no dia do incêndio. Ele correu para os escritórios do U.S. Marines' Civil Affairs Bureau (Escritório para os Assuntos Civis dos Marines dos EUA) e entregou ao oficial de plantão a localização exata no mapa dos dois arquivos, assim como seus nomes em árabe e em inglês, assinalando que a fumaça podia ser vista de três milhas de distância. O oficial gritou para um seu colega: "Esse cara tá dizendo que tem uma biblioteca bíblica pegando fogo", mas os americanos nada fizeram para tentar apagar as chamas.[13]

 

O Burger King de Ur

Em função do valor do mercado negro dos objetos de arte antigos, os líderes militares dos EUA tinham sido prevenidos de que os saques de todos os treze museus nacionais espalhados pelo país seriam um perigo particularmente grave nos dias seguintes à captura de Bagdá e à tomada de controle sobre o Iraque. No caos que sucedeu a Guerra do Golfo de 1991, vândalos roubaram cerca de 4.000 objetos de nove diferentes museus regionais. Em termos monetários, o comércio ilegal de antigüidades é a terceira forma mais lucrativa de comércio internacional em âmbito global, superado somente pelo contrabando de drogas e pela venda de armas.[14] Considerando a riqueza do passado do Iraque, há também mais de 10.000 sítios arqueológicos significativos espalhados pelo país, dos quais apenas 1.500 foram estudados. Depois da Guerra do Golfo, vários deles foram excavados ilegalmente e seus artefatos vendidos a inescrupulosos colecionadores de países ocidentais e do Japão. Tudo isso era conhecido pelos comandantes americanos.

Em janeiro de 2003, às vésperas da invasão do Iraque, uma delegação de estudiosos dos EUA, diretores de museus, colecionadores de arte e marchands de antigüidades se reuniram com oficiais do Pentágono para discutir a iminente invasão. Eles advertiram especificamente que o Museu Nacional de Bagdá era o sítio mais importante do país. McGuire Gibson, do Instituto Oriental da Universidade de Chicago disse: "Achei que tinham me garantido que os sítios e os museus seriam protegidos."[15] Gibson voltou ao Pentágono duas vezes para discutir sobre os perigos, e ele e seus colegas enviaram vários e-mails para lembrar os oficiais militares durante as semanas que precederam o início da guerra. Entretanto, o Guardian de Londres de 14 de abril de 2003 informou sobre uma condição mais sinistra para os eventos que iriam se desenrolar: ricos colecionadores dos EUA com conexões na Casa Branca estavam ocupados "persuadindo o Pentágono para que fosse ‘relaxada’ a legislação que protegia a herança do Iraque, e que impedia a venda de artefatos no exterior". Em 24 de janeiro de 2003, cerca de 60 colecionadores e marchands com base em Nova York se organizaram formando um grupo chamado American Council for Cultural Policy (Conselho dos EUA para a Política Cultural) e se reuniram com a administração Bush e oficiais do Pentágono para argumentar que o Iraque pós-Saddam deveria ter leis mais relaxadas sobre as antigüidades.[16] O grupo sugeriu que a abertura do comércio privado em artefatos iraquianos ofereceria a esses objetos uma segurança muito superior à que receberiam no Iraque.

A principal salvaguarda jurídica internacional para instituições e sítios histórica e humanisticamente importantes é a Convenção de Haia para a Proteção da Propriedade Cultural em caso de Conflito Armado, assinada em 14 de maio de 1954. Os EUA não participam dessa convenção, principalmente porque, durante a Guerra Fria, temia que o tratado pudesse restringir sua liberdade de se lançar numa guerra nuclear, mas durante a Guerra do Golfo de 1991, a administração de Bush pai aceitou as regras da convenção e se comprometeu de cumprir com uma "lista de objetivos de não-fogo", onde se sabia de lugares onde existiam artefatos de valor cultural precioso.[17] A UNESCO e os outros guardiões dos artefatos culturais esperavam que a administração Bush filho seguisse os mesmos procedimentos para a guerra de 2003.

Além disso, no dia 26 de março de 2003, o Office of Reconstruction and Humanitarian Assistance (ORHA, ou Escritório de Reconstrução e Assistência Humanitária) do Pentágono, dirigida pelo Tenente Geral (aposentado) Jay Garner — a autoridade civil que os EUA estabeleceram para quando cessassem as hostilidades — enviou a todos os altos comandantes dos EUA uma lista de dezesseis instituições que "merecem proteção assim que possível, para prevenir danos ou destruição adicionais, e/ou saques de arquivos e ativos". O memorando de cinco páginas, despachado duas semanas antes da queda de Bagdá, também disse: "As forças da coalisão devem proteger esses estabelecimentos de modo a impedir saques e a conseqüente perda irreparável de tesouros culturais" e que "os saqueadores devem ser presos/detidos". O primeiro lugar da lista de sítios a serem protegidos do Gen. Garner era o Banco Central do Iraque, que agora é uma ruína; o segundo era o Museu de Antigüidades. O 16º era o Ministério do Petróleo, o único lugar que as forças de ocupação dos EUA protegeram, na realidade. Martin Sullivan, presidente do Comitê de Conselho do Presidente sobre Propriedade Cultural durante os oito anos anteriores, e Gary Vikan, diretor do Walters Art Museum de Baltimore e um dos membros do comitê, resignaram em sinal de protesto contra o fato de que o CENTCOM não tivesse obedecido as ordens recebidas. Sullivan disse que era "indesculpável" que o Museu não tivesse recebido a mesma prioridade de tratamento que o Ministério do Petróleo.[18]

Como sabemos agora, as forças americanas não fizeram qualquer esforço para prevenir a pilhagem das grandes instituições culturais do Iraque, seus soldados simplesmente olharam os vândalos entrarem e incendiarem os prédios. Said Arjomand, editor da publicação Studies on Persianate Societies e professor de sociologia na State University of New York em Stony Brook, escreveu: "Nossas tropas, que protegeram com tanto orgulho o Ministério do Petróleo, onde nenhuma janela foi quebrada, deliberadamente desculparam esses eventos terríveis."[19] Os comandantes americanos sustentam que, ao contrário, eles estavam muito ocupados combatendo e tinham poucas tropas para proteger o museu e as bibliotecas. Entretanto, essa explicação parece pouco provável. Durante a batalha para a tomada de Bagdá, os militares dos EUA não hesitaram em despachar 2.000 tropas para proteger os campos de petróleo do norte do Iraque, e os dados históricos relativos às antigüidades não melhoraram quando a luta diminuiu. Na cidade suméria de Ur, de 6 mil anos, com seu sólido zigurate, ou ainda a torre-templo em degraus (construída no período entre 2112 — 2095 a.C. e restaurada por Nebuchadnezzar II no século VI a.C.), os marines borrifaram com spray seu lema: "Sempre Fi" (semper fidelis, sempre fiéis) nos muros.[20] Em seguida, os militares interditaram os monumentos para todos, de modo a disfarçar a profanação que ocorreu ali, incluindo a pilhagem pelos soldados dos EUA de tijolos de argila usados na construção dos antigos edifícios.

Até abril de 2003, as áreas em volta de Ur, nas proximidades de Nassiria, eram remotas e sacrossantas. Entrentanto, os militares dos EUA escolheram o território imediatamente adjacente ao zigurate para construir sua imensa base aérea Tallil Air, com duas pistas medindo 12 mil e 9 mil e 700 pés, respectivamente, além de quatro campos satélites. No processo, engenheiros militares transportaram mais de 9.500 cargas de terra em caminhões para construir 350 mil pés quadrados de hangares e outras instalações para aviões comuns e aviões ‘Predator’, que voam sem tripulação. Eles arruinaram completamente a área, considerada literalmente o coração da civilização humana e inutilizando-a para qualquer pequisa arqueológica ou turismo futuros. Em 24 de outubro de 2003, segundo a Global Security Organization, o Exército e a Força Aérea construíram seu próprio zigurate moderno. Eles "abriram seu segundo Burger King em Tallil. O novo estabelecimento, localizado juntamente com um Pizza Hut, oferece um outro restaurante Burger King, de modo que mais militares em serviço no Iraque possam, mesmo que só por um breve momento, esquecer suas tarefas no deserto e ter um bafo daquele odor familiar que os remete mentalmente à própria pátria".[21]

O grande arqueólogo britânico Sir Max Mallowan (marido de Agatha Christie), e que foi um dos pioneiros nas excavações em Ur, Nínive e Nimrud, cita um conselho clássico, e que os norte-americanos deveriam ter tido a sabedoria de dar atenção: "Era perigoso incomodar os monumentos antigos… Era tanto sensato quanto historicamente importante reverenciar os legados dos tempos antigos. Ur era uma cidade infestada de fantasmas do passado e era prudente apaziguá-los."[22]

O recorde americanos em outras partes do Iraque não é nada melhor. Em Babilônia, as forças norte-americanas e polonesas construíram um depósito militar, apesar das objeções dos arqueólogos. John Curtis, autoridade do British Museum sobre os muitos sítios arqueológicos do Iraque, reportou, numa visita efetuada em dezembro de 2004, que viu: "rachaduras e buracos onde alguém tinha tentado retirar tijolos decorados que formavam os famosos dragões do Portão de Ishtar" e um "pavimento de tijolos de 2.600 anos esmigalhado pos veículos ".[23] Outros observadores dizem que o pó provocado pelos helicópteros dos EUA atacou com jatos de areia a frágil fachada de tijolos do palácio do rei Nebuchadnezzar II, rei de Babilônia de 605 a 562 a.C.[24] O arqueólogo Zainab Bahrani reporta: "Entre maio e agosto de 2004, o muro do Templo de Nabu e o teto do Templo de Ninmah, ambos do VI século a.C., desmoronaram como resultado do movimento dos helicópteros. Em local próximo, máquinas pesadas e veículos permanecem estacionados sobre as ruínas de um teatro grego da era de Alexandre da Macedônia [Alexandre o Grande]".[25]

E nada disso nem sequer começa a tratar do problema do saque intenso e contínuo dos sítios históricos do Iraque por ladrões freelance de sepulturas e antigüidades, preparando-se para estocar as salas de visita dos colecionadores ocidentais. O caos sem trégua e a falta de segurança trazidos ao Iraque com a nossa invasão significaram que um futuro pacífico para o Iraque não incluirá um patrimônio histórico a ser exibido. Não é um feito de pouca monta para administração Bush, o de ter atirado o berço do passado humano no mesmo tipo de caos e falta de segurança que o presente do Iraque. Se a amnésia é uma bênção, então o destino das antigüidades do Iraque representa uma espécie de paraíso moderno.

Os partidários do Presidente Bush têm falado, infinitamente, sobre sua guerra global contra o terrorismo como um "choque de civilizações". Mas a civilização que destruindo no Iraque é parte de nossa própria herança. E é também parte do patrimônio mundial. Antes de nossa invasão ao Afeganistão, condenamos os talebãs por dinamitarem as monumentais estátuas budistas do século III em Bamiyan, em março de 2001. Tratava-se de duas estátuas gigantescas de imenso valor histórico, sendo que o barbarismo de sua destruição gerou manchetes inflamadas e comentários horrorizados em nosso país. Hoje, o nosso próprio governo é culpado de crimes muito maiores, quando se trata da destruição de todo um universo de antigüidades, e poucos, aqui, ao considerarem as atitudes iraquianas relativas à ocupação dos EUA, se dão ao trabalho, sequer, de levar o fato em consideração. Mas o que nós não fazemos questão de lembrar pode estar, na realidade, muito presente na memória dos outros.

Este ensaio foi extraído do livro de Chalmers Johnson que será lançado no final de 2006, Nemesis: The Crisis of the American Republic. Será parte do volume final da Blowback Trilogy. Os primeiros dois volumes são titulados Blowback: The Costs and Consequences of American Empire (2000) e The Sorrows of Empire: Militarism, Secrecy, and the End of the Republic (2004).

NOTAS

[1.] American Embassy, London, " Visit of President Bush to Northern Ireland, April 7-8, 2003."

[2.] William R. Polk, "Introduction," Milbry Polk and Angela M. H. Schuster, eds., The Looting of the Iraq Museum: The Lost Legacy of Ancient Mesopotamia (New York: Harry N. Abrams, 2005), p. 5. Also see Suzanne Muchnic, "Spotlight on Iraq's Plundered Past," Los Angeles Times, June 20, 2005.

[3.] David Fromkin, A Peace to End All Peace: The Fall of the Ottoman Empire and the Creation of the Modern Middle East (New York: Owl Books, 1989, 2001), p. 450.

[4.] George Bush's address to the Iraqi people, broadcast on "Towards Freedom TV," April 10, 2003.

[5.] Office of the Under Secretary of Defense for Acquisition, Technology, and Logistics, Report of the Defense Science Board Task Force on Strategic Communication (Washington, D.C.: September 2004), pp. 39-40.

[6.] See Frank Rich, "And Now: 'Operation Iraqi Looting,'" New York Times, April 27, 2003.

[7.] Robert Scheer, "It's U.S. Policy that's 'Untidy,'" Los Angeles Times, April 15, 2003; reprinted in Books in Flames, Tomdispatch, April 15, 2003.

[8.] John F. Burns, "Pillagers Strip Iraqi Museum of Its Treasures," New York Times, April 13, 2003; Piotr Michalowski (University of Michigan), The Ransacking of the Baghdad Museum is a Disgrace, History News Network, April 14, 2003.

[9.] Polk and Schuster, op. cit, pp. 209-210.

[10.] Mark Wilkinson, Looting of Ancient Sites Threatens Iraqi Heritage, Reuters, June 29, 2005.

[11.] Polk and Schuster, op. cit., pp. 23, 212-13; Louise Jury, "At Least 8,000 Treasures Looted from Iraq Museum Still Untraced," Independent, May 24, 2005; Stephen Fidler, "'The Looters Knew What They Wanted. It Looks Like Vandalism, but Organized Crime May be Behind It,'" Financial Times, May 23, 2003; Rod Liddle, The Day of the Jackals, Spectator, April 19, 2003.

[12.] Humberto Márquez, Iraq Invasion the 'Biggest Cultural Disaster Since 1258,' Antiwar.com, February 16, 2005.

[13.] Robert Fisk, "Library Books, Letters, and Priceless Documents are Set Ablaze in Final Chapter of the Sacking of Baghdad," Independent, April 15, 2003.

[14.] Polk and Schuster, op. cit., p. 10.

[15.] Guy Gugliotta, "Pentagon Was Told of Risk to Museums; U.S. Urged to Save Iraq's Historic Artifacts," Washington Post, April 14, 2003; McGuire Gibson, "Cultural Tragedy In Iraq: A Report On the Looting of Museums, Archives, and Sites," International Foundation for Art Research.

[16.] Rod Liddle, op. cit..; Oliver Burkeman, Ancient Archive Lost in Baghdad Blaze, Guardian, April 15, 2003.

[17.] See James A. R. Nafziger, Art Loss in Iraq: Protection of Cultural Heritage in Time of War and Its Aftermath, International Foundation for Art Research.

[18.] Paul Martin, Ed Vulliamy, and Gaby Hinsliff, U.S. Army was Told to Protect Looted Museum, Observer, April 20, 2003; Frank Rich, op. cit.; Paul Martin, "Troops Were Told to Guard Treasures," Washington Times, April 20, 2003.

[19.] Said Arjomand, Under the Eyes of U.S. Forces and This Happened?, History News Network, April 14, 2003.

[20.] Ed Vulliamy, Troops 'Vandalize' Ancient City of Ur, Observer, May 18, 2003; Paul Johnson, Art: A New History (New York: HarperCollins, 2003), pp. 18, 35; Polk and Schuster, op. cit., p. 99, fig. 25.

[21.] Tallil Air Base, GlobalSecurity.org.

[22.] Max Mallowan, Mallowan's Memoirs (London: Collins, 1977), p. 61.

[23.] Rory McCarthy and Maev Kennedy, Babylon Wrecked by War, Guardian, January 15, 2005.

[24.] Owen Bowcott, Archaeologists Fight to Save Iraqi Sites, Guardian, June 20, 2005.

[25.] Zainab Bahrani, "The Fall of Babylon," in Polk and Schuster, op. cit., p. 214.

© 2005 Chalmers Johnson

 

Published on Friday, July 8, 2005 by TomDispatch.com

The Smash of Civilizations

by Chalmers Johnson

 

In the months before he ordered the invasion of Iraq, George Bush and his senior officials spoke of preserving Iraq's "patrimony" for the Iraqi people. At a time when talking about Iraqi oil was taboo, what he meant by patrimony was exactly that -- Iraqi oil. In their "joint statement on Iraq's future" of April 8, 2003, George Bush and Tony Blair declared, "We reaffirm our commitment to protect Iraq's natural resources, as the patrimony of the people of Iraq, which should be used only for their benefit."[1] In this they were true to their word. Among the few places American soldiers actually did guard during and in the wake of their invasion were oil fields and the Oil Ministry in Baghdad. But the real Iraqi patrimony, that invaluable human inheritance of thousands of years, was another matter. At a time when American pundits were warning of a future "clash of civilizations," our occupation forces were letting perhaps the greatest of all human patrimonies be looted and smashed.

There have been many dispiriting sights on TV since George Bush launched his ill-starred war on Iraq -- the pictures from Abu Ghraib, Fallujah laid waste, American soldiers kicking down the doors of private homes and pointing assault rifles at women and children. But few have reverberated historically like the looting of Baghdad's museum -- or been forgotten more quickly in this country.

Teaching the Iraqis about the Untidiness of History

In archaeological circles, Iraq is known as "the cradle of civilization," with a record of culture going back more than 7,000 years. William R. Polk, the founder of the Center for Middle Eastern Studies at the University of Chicago, says, "It was there, in what the Greeks called Mesopotamia, that life as we know it today began: there people first began to speculate on philosophy and religion, developed concepts of international trade, made ideas of beauty into tangible forms, and, above all developed the skill of writing."[2] No other places in the Bible except for Israel have more history and prophecy associated with them than Babylonia, Shinar (Sumer), and Mesopotamia -- different names for the territory that the British around the time of World War I began to call "Iraq," using the old Arab term for the lands of the former Turkish enclave of Mesopotamia (in Greek: "between the [Tigris and Eurphrates] rivers").[3] Most of the early books of Genesis are set in Iraq (see, for instance, Genesis 10:10, 11:31; also Daniel 1-4; II Kings 24).

The best-known of the civilizations that make up Iraq's cultural heritage are the Sumerians, Akkadians, Babylonians, Assyrians, Chaldeans, Persians, Greeks, Romans, Parthians, Sassanids, and Muslims. On April 10, 2003, in a television address, President Bush acknowledged that the Iraqi people are "the heirs of a great civilization that contributes to all humanity."[4.] Only two days later, under the complacent eyes of the U.S. Army, the Iraqis would begin to lose that heritage in a swirl of looting and burning.

In September 2004, in one of the few self-critical reports to come out of Donald Rumsfeld's Department of Defense, the Defense Science Board Task Force on Strategic Communication wrote: "The larger goals of U.S. strategy depend on separating the vast majority of non-violent Muslims from the radical-militant Islamist-Jihadists. But American efforts have not only failed in this respect: they may also have achieved the opposite of what they intended."[5] Nowhere was this failure more apparent than in the indifference -- even the glee -- shown by Rumsfeld and his generals toward the looting on April 11 and 12, 2003, of the National Museum in Baghdad and the burning on April 14, 2003, of the National Library and Archives as well as the Library of Korans at the Ministry of Religious Endowments. These events were, according to Paul Zimansky, a Boston University archaeologist, "the greatest cultural disaster of the last 500 years." Eleanor Robson of All Souls College, Oxford, said, "You'd have to go back centuries, to the Mongol invasion of Baghdad in 1258, to find looting on this scale."[6] Yet Secretary Rumsfeld compared the looting to the aftermath of a soccer game and shrugged it off with the comment that "Freedom's untidy. . . . Free people are free to make mistakes and commit crimes."[7]

The Baghdad archaeological museum has long been regarded as perhaps the richest of all such institutions in the Middle East. It is difficult to say with precision what was lost there in those catastrophic April days in 2003 because up-to-date inventories of its holdings, many never even described in archaeological journals, were also destroyed by the looters or were incomplete thanks to conditions in Baghdad after the Gulf War of 1991. One of the best records, however partial, of its holdings is the catalog of items the museum lent in 1988 to an exhibition held in Japan's ancient capital of Nara entitled Silk Road Civilizations. But, as one museum official said to John Burns of the New York Times after the looting, "All gone, all gone. All gone in two days."[8]

A single, beautifully illustrated, indispensable book edited by Milbry Park and Angela M.H. Schuster, The Looting of the Iraq Museum, Baghdad: The Lost Legacy of Ancient Mesopotamia (New York: Harry N. Abrams, 2005), represents the heartbreaking attempt of over a dozen archaeological specialists on ancient Iraq to specify what was in the museum before the catastrophe, where those objects had been excavated, and the condition of those few thousand items that have been recovered. The editors and authors have dedicated a portion of the royalties from this book to the Iraqi State Board of Antiquities and Heritage.

At a conference on art crimes held in London a year after the disaster, the British Museum's John Curtis reported that at least half of the forty most important stolen objects had not been retrieved and that of some 15,000 items looted from the museum's showcases and storerooms about 8,000 had yet to be traced. Its entire collection of 5,800 cylinder seals and clay tablets, many containing cuneiform writing and other inscriptions some of which go back to the earliest discoveries of writing itself, was stolen.[9] Since then, as a result of an amnesty for looters, about 4,000 of the artifacts have been recovered in Iraq, and over a thousand have been confiscated in the United States.[10] Curtis noted that random checks of Western soldiers leaving Iraq had led to the discovery of several in illegal possession of ancient objects. Customs agents in the U.S. then found more. Officials in Jordan have impounded about 2,000 pieces smuggled in from Iraq; in France, 500 pieces; in Italy, 300; in Syria, 300; and in Switzerland, 250. Lesser numbers have been seized in Kuwait, Saudi Arabia, Iran, and Turkey. None of these objects has as yet been sent back to Baghdad.

The 616 pieces that form the famous collection of "Nimrud gold," excavated by the Iraqis in the late 1980s from the tombs of the Assyrian queens at Nimrud, a few miles southeast of Mosul, were saved, but only because the museum had secretly moved them to the subterranean vaults of the Central Bank of Iraq at the time of the first Gulf War. By the time the Americans got around to protecting the bank in 2003, its building was a burnt-out shell filled with twisted metal beams from the collapse of the roof and all nine floors under it. Nonetheless, the underground compartments and their contents survived undamaged. On July 3, 2003, a small portion of the Nimrud holdings was put on display for a few hours, allowing a handful of Iraqi officials to see them for the first time since 1990.[11]

The torching of books and manuscripts in the Library of Korans and the National Library was in itself a historical disaster of the first order. Most of the Ottoman imperial documents and the old royal archives concerning the creation of Iraq were reduced to ashes. According to Humberto Márquez, the Venezuelan writer and author of Historia Universal de La Destrucción de Los Libros (2004), about a million books and ten million documents were destroyed by the fires of April 14, 2003.[12] Robert Fisk, the veteran Middle East correspondent of the Independent of London, was in Baghdad the day of the fires. He rushed to the offices of the U.S. Marines' Civil Affairs Bureau and gave the officer on duty precise map locations for the two archives and their names in Arabic and English, and pointed out that the smoke could be seen from three miles away. The officer shouted to a colleague, "This guy says some biblical library is on fire," but the Americans did nothing to try to put out the flames.[13]

The Burger King of Ur

Given the black market value of ancient art objects, U.S. military leaders had been warned that the looting of all thirteen national museums throughout the country would be a particularly grave danger in the days after they captured Baghdad and took control of Iraq. In the chaos that followed the Gulf War of 1991, vandals had stolen about 4,000 objects from nine different regional museums. In monetary terms, the illegal trade in antiquities is the third most lucrative form of international trade globally, exceeded only by drug smuggling and arms sales.[14] Given the richness of Iraq's past, there are also over 10,000 significant archaeological sites scattered across the country, only some 1,500 of which have been studied. Following the Gulf War, a number of them were illegally excavated and their artifacts sold to unscrupulous international collectors in Western countries and Japan. All this was known to American commanders.

In January 2003, on the eve of the invasion of Iraq, an American delegation of scholars, museum directors, art collectors, and antiquities dealers met with officials at the Pentagon to discuss the forthcoming invasion. They specifically warned that Baghdad's National Museum was the single most important site in the country. McGuire Gibson of the University of Chicago's Oriental Institute said, "I thought I was given assurances that sites and museums would be protected."[15] Gibson went back to the Pentagon twice to discuss the dangers, and he and his colleagues sent several e-mail reminders to military officers in the weeks before the war began. However, a more ominous indicator of things to come was reported in the April 14, 2003, London Guardian: Rich American collectors with connections to the White House were busy "persuading the Pentagon to relax legislation that protects Iraq's heritage by prevention of sales abroad." On January 24, 2003, some sixty New York-based collectors and dealers organized themselves into a new group called the American Council for Cultural Policy and met with Bush administration and Pentagon officials to argue that a post-Saddam Iraq should have relaxed antiquities laws.[16] Opening up private trade in Iraqi artifacts, they suggested, would offer such items better security than they could receive in Iraq.

The main international legal safeguard for historically and humanistically important institutions and sites is the Hague Convention for the Protection of Cultural Property in the Event of Armed Conflict, signed on May 14, 1954. The U.S. is not a party to that convention, primarily because, during the Cold War, it feared that the treaty might restrict its freedom to engage in nuclear war; but during the 1991 Gulf War the elder Bush's administration accepted the convention's rules and abided by a "no-fire target list" of places where valuable cultural items were known to exist.[17] UNESCO and other guardians of cultural artifacts expected the younger Bush's administration to follow the same procedures in the 2003 war.

Moreover, on March 26, 2003, the Pentagon's Office of Reconstruction and Humanitarian Assistance (ORHA), headed by Lt. Gen. (ret.) Jay Garner -- the civil authority the U.S. had set up for the moment hostilities ceased -- sent to all senior U.S. commanders a list of sixteen institutions that "merit securing as soon as possible to prevent further damage, destruction, and/or pilferage of records and assets." The five-page memo dispatched two weeks before the fall of Baghdad also said, "Coalition forces must secure these facilities in order to prevent looting and the resulting irreparable loss of cultural treasures" and that "looters should be arrested/detained." First on Gen. Garner's list of places to protect was the Iraqi Central Bank, which is now a ruin; second was the Museum of Antiquities. Sixteenth was the Oil Ministry, the only place that U.S. forces occupying Baghdad actually defended. Martin Sullivan, chair of the President's Advisory Committee on Cultural Property for the previous eight years, and Gary Vikan, director of the Walters Art Museum in Baltimore and a member of the committee, both resigned to protest the failure of CENTCOM to obey orders. Sullivan said it was "inexcusable" that the museum should not have had the same priority as the Oil Ministry.[18]

As we now know, the American forces made no effort to prevent the looting of the great cultural institutions of Iraq, its soldiers simply watching vandals enter and torch the buildings. Said Arjomand, an editor of the journal Studies on Persianate Societies and a professor of sociology at the State University of New York at Stony Brook, wrote, "Our troops, who have been proudly guarding the Oil Ministry, where no window is broken, deliberately condoned these horrendous events."[19] American commanders claim that, to the contrary, they were too busy fighting and had too few troops to protect the museum and libraries. However, this seems to be an unlikely explanation. During the battle for Baghdad, the U.S. military was perfectly willing to dispatch some 2,000 troops to secure northern Iraq's oilfields, and their record on antiquities did not improve when the fighting subsided. At the 6,000-year-old Sumerian city of Ur with its massive ziggurat, or stepped temple-tower (built in the period 2112 - 2095 B.C. and restored by Nebuchadnezzar II in the sixth century B.C.), the Marines spray-painted their motto, "Semper Fi" (semper fidelis, always faithful) onto its walls.[20] The military then made the monument "off limits" to everyone in order to disguise the desecration that had occurred there, including the looting by U.S. soldiers of clay bricks used in the construction of the ancient buildings.

Until April 2003, the area around Ur, in the environs of Nasiriyah, was remote and sacrosanct. However, the U.S. military chose the land immediately adjacent to the ziggurat to build its huge Tallil Air Base with two runways measuring 12,000 and 9,700 feet respectively and four satellite camps. In the process, military engineers moved more than 9,500 truckloads of dirt in order to build 350,000 square feet of hangars and other facilities for aircraft and Predator unmanned drones. They completely ruined the area, the literal heartland of human civilization, for any further archaeological research or future tourism. On October 24, 2003, according to the Global Security Organization, the Army and Air Force built its own modern ziggurat. It "opened its second Burger King at Tallil. The new facility, co-located with [a] . . . Pizza Hut, provides another Burger King restaurant so that more service men and women serving in Iraq can, if only for a moment, forget about the task at hand in the desert and get a whiff of that familiar scent that takes them back home."[21]

The great British archaeologist, Sir Max Mallowan (husband of Agatha Christie), who pioneered the excavations at Ur, Nineveh, and Nimrud, quotes some classical advice that the Americans might have been wise to heed: "There was danger in disturbing ancient monuments. . . . It was both wise and historically important to reverence the legacies of ancient times. Ur was a city infested with ghosts of the past and it was prudent to appease them."[22]

The American record elsewhere in Iraq is no better. At Babylon, American and Polish forces built a military depot, despite objections from archaeologists. John Curtis, the British Museum's authority on Iraq's many archaeological sites, reported on a visit in December 2004 that he saw "cracks and gaps where somebody had tried to gouge out the decorated bricks forming the famous dragons of the Ishtar Gate" and a "2,600-year-old brick pavement crushed by military vehicles."[23] Other observers say that the dust stirred up by U.S. helicopters has sandblasted the fragile brick façade of the palace of Nebuchadnezzar II, king of Babylon from 605 to 562 B.C.[24] The archaeologist Zainab Bahrani reports, "Between May and August 2004, the wall of the Temple of Nabu and the roof of the Temple of Ninmah, both of the sixth century B.C., collapsed as a result of the movement of helicopters. Nearby, heavy machines and vehicles stand parked on the remains of a Greek theater from the era of Alexander of Macedon [Alexander the Great]."[25]

And none of this even begins to deal with the massive, ongoing looting of historical sites across Iraq by freelance grave and antiquities robbers, preparing to stock the living rooms of western collectors. The unceasing chaos and lack of security brought to Iraq in the wake of our invasion have meant that a future peaceful Iraq may hardly have a patrimony to display. It is no small accomplishment of the Bush administration to have plunged the cradle of the human past into the same sort of chaos and lack of security as the Iraqi present. If amnesia is bliss, then the fate of Iraq's antiquities represents a kind of modern paradise.

President Bush's supporters have talked endlessly about his global war on terrorism as a "clash of civilizations." But the civilization we are in the process of destroying in Iraq is part of our own heritage. It is also part of the world's patrimony. Before our invasion of Afghanistan, we condemned the Taliban for their dynamiting of the monumental third century A.D. Buddhist statues at Bamiyan in March, 2001. Those were two gigantic statues of remarkable historical value and the barbarism involved in their destruction blazed in headlines and horrified commentaries in our country. Today, our own government is guilty of far greater crimes when it comes to the destruction of a whole universe of antiquity, and few here, when they consider Iraqi attitudes toward the American occupation, even take that into consideration. But what we do not care to remember, others may recall all too well.

This essay is extracted from Chalmers Johnson's Nemesis: The Crisis of the American Republic, forthcoming from Metropolitan Books in late 2006, the final volume in the Blowback Trilogy. The first two volumes are Blowback: The Costs and Consequences of American Empire (2000) and The Sorrows of Empire: Militarism, Secrecy, and the End of the Republic (2004).

NOTES

[1.] American Embassy, London, " Visit of President Bush to Northern Ireland, April 7-8, 2003."

[2.] William R. Polk, "Introduction," Milbry Polk and Angela M. H. Schuster, eds., The Looting of the Iraq Museum: The Lost Legacy of Ancient Mesopotamia (New York: Harry N. Abrams, 2005), p. 5. Also see Suzanne Muchnic, "Spotlight on Iraq's Plundered Past," Los Angeles Times, June 20, 2005.

[3.] David Fromkin, A Peace to End All Peace: The Fall of the Ottoman Empire and the Creation of the Modern Middle East (New York: Owl Books, 1989, 2001), p. 450.

[4.] George Bush's address to the Iraqi people, broadcast on "Towards Freedom TV," April 10, 2003.

[5.] Office of the Under Secretary of Defense for Acquisition, Technology, and Logistics, Report of the Defense Science Board Task Force on Strategic Communication (Washington, D.C.: September 2004), pp. 39-40.

[6.] See Frank Rich, "And Now: 'Operation Iraqi Looting,'" New York Times, April 27, 2003.

[7.] Robert Scheer, "It's U.S. Policy that's 'Untidy,'" Los Angeles Times, April 15, 2003; reprinted in Books in Flames, Tomdispatch, April 15, 2003.

[8.] John F. Burns, "Pillagers Strip Iraqi Museum of Its Treasures," New York Times, April 13, 2003; Piotr Michalowski (University of Michigan), The Ransacking of the Baghdad Museum is a Disgrace, History News Network, April 14, 2003.

[9.] Polk and Schuster, op. cit, pp. 209-210.

[10.] Mark Wilkinson, Looting of Ancient Sites Threatens Iraqi Heritage, Reuters, June 29, 2005.

[11.] Polk and Schuster, op. cit., pp. 23, 212-13; Louise Jury, "At Least 8,000 Treasures Looted from Iraq Museum Still Untraced," Independent, May 24, 2005; Stephen Fidler, "'The Looters Knew What They Wanted. It Looks Like Vandalism, but Organized Crime May be Behind It,'" Financial Times, May 23, 2003; Rod Liddle, The Day of the Jackals, Spectator, April 19, 2003.

[12.] Humberto Márquez, Iraq Invasion the 'Biggest Cultural Disaster Since 1258,' Antiwar.com, February 16, 2005.

[13.] Robert Fisk, "Library Books, Letters, and Priceless Documents are Set Ablaze in Final Chapter of the Sacking of Baghdad," Independent, April 15, 2003.

[14.] Polk and Schuster, op. cit., p. 10.

[15.] Guy Gugliotta, "Pentagon Was Told of Risk to Museums; U.S. Urged to Save Iraq's Historic Artifacts," Washington Post, April 14, 2003; McGuire Gibson, "Cultural Tragedy In Iraq: A Report On the Looting of Museums, Archives, and Sites," International Foundation for Art Research.

[16.] Rod Liddle, op. cit..; Oliver Burkeman, Ancient Archive Lost in Baghdad Blaze, Guardian, April 15, 2003.

[17.] See James A. R. Nafziger, Art Loss in Iraq: Protection of Cultural Heritage in Time of War and Its Aftermath, International Foundation for Art Research.

[18.] Paul Martin, Ed Vulliamy, and Gaby Hinsliff, U.S. Army was Told to Protect Looted Museum, Observer, April 20, 2003; Frank Rich, op. cit.; Paul Martin, "Troops Were Told to Guard Treasures," Washington Times, April 20, 2003.

[19.] Said Arjomand, Under the Eyes of U.S. Forces and This Happened?, History News Network, April 14, 2003.

[20.] Ed Vulliamy, Troops 'Vandalize' Ancient City of Ur, Observer, May 18, 2003; Paul Johnson, Art: A New History (New York: HarperCollins, 2003), pp. 18, 35; Polk and Schuster, op. cit., p. 99, fig. 25.

[21.] Tallil Air Base, GlobalSecurity.org.

[22.] Max Mallowan, Mallowan's Memoirs (London: Collins, 1977), p. 61.

[23.] Rory McCarthy and Maev Kennedy, Babylon Wrecked by War, Guardian, January 15, 2005.

[24.] Owen Bowcott, Archaeologists Fight to Save Iraqi Sites, Guardian, June 20, 2005.

[25.] Zainab Bahrani, "The Fall of Babylon," in Polk and Schuster, op. cit., p. 214.

© 2005 Chalmers Johnson

 

 

La aniquilación de civilizaciones

Chalmers Johnson

TomDispatch

En los meses antes de que ordenara la invasión de Irak, George Bush y sus altos funcionarios hablaron de preservar el "patrimonio" de Irak para el pueblo iraquí. En tiempos en los que hablar del petróleo iraquí era tabú, lo que Bush quería decir al hablar de patrimonio era exactamente eso — el petróleo iraquí. En su "declaración conjunta sobre el futuro de Irak" del 8 de abril de 2003, George Bush y Tony Blair declararon: "Reafirmamos nuestro compromiso de proteger los recursos naturales de Irak, como patrimonio del pueblo de Irak, que debería ser utilizado sólo para su beneficio". (1) En esto cumplieron con su palabra. Entre los pocos sitios que los soldados estadounidenses realmente protegieron durante y después de su invasión estuvieron los campos petrolíferos y el Ministerio de Petróleo en Bagdad. Pero el verdadero patrimonio iraquí, esa herencia milenaria de la humanidad, fue algo diferente. Al mismo tiempo que los eruditos estadounidenses advertían de un futuro "choque de civilizaciones" nuestras fuerzas de ocupación permitían que lo que es tal vez el mayor de los patrimonios humanos fuera saqueado y destrozado.

 

 

Ha habido muchas imágenes deprimentes en la televisión desde que George Bush lanzara su malhadada guerra contra Irak — las fotos de Abu Ghraib, Faluya arrasada, soldados estadounidenses destruyendo a puntapiés las puertas de casas privadas y apuntando con rifles de asalto a mujeres y niños. Pero pocas han reverberado históricamente como el saqueo del museo de Bagdad — o han sido olvidadas más rápido en este país.

 

 

Enseñando a los iraquíes el desaliño de la historia.

 

 

En círculos arqueológicos, Irak es conocido como "la cuna de la civilización" con un historial cultural que se originó hace más de 7.000 años. William R. Polk, fundador del Centro de Estudios Medio-Orientales en la Universidad de Chicago, dice: "Fue allí, en lo que los griegos llamaban Mesopotamia donde comenzó la vida tal como la conocemos actualmente: allí la gente comenzó por primera vez a especular sobre filosofía y religión, desarrolló conceptos de comercio internacional, convirtió ideas de belleza en formas tangibles y, sobre todo, desarrolló la maestría de la escritura". (2) No se asocia ningún otro sitio en la Biblia, con la excepción de Israel, con más historia y profecía que Babilonia, Shinar (Sumeria), y Mesopotamia — diferentes nombres para el territorio que los británicos comenzaron a llamar "Irak" cerca de la época de la Primera Guerra Mundial, utilizando el antiguo término árabe para las tierras del antiguo enclave turco de Mesopotamia (en griego: entre los ríos [Tigris y Éufrates]). (3) La mayor parte de los primeros libros del Génesis están localizados en Irak (vea, por ejemplo: Génesis 10:10, 11:31; también Daniel 1-4; II Reyes 24).

 

 

Las civilizaciones mejor conocidas que componen el patrimonio cultural de Irak son los sumerios, akkadios, babilonios, asirios, caldeos, persas, griegos, romanos, partianos, sasanidas y musulmanes. El 10 de abril de 2003, en un discurso por televisión, el presidente Bush reconoció que el pueblo iraquí es "heredero de una gran civilización que contribuye a toda la humanidad". (4) Sólo dos días después, bajo los ojos complacientes del Ejército de EE.UU., los iraquíes comenzaron a perder ese patrimonio en un torbellino de saqueos e incendios.

 

 

En septiembre de 2004, en uno de los pocos informes autocríticos que salieron del Departamento de Defensa de Donald Rumsfeld, el Grupo de Trabajo del Consejo Científico de la Defensa sobre Comunicación Estratégica escribió: "los objetivos más amplios de la estrategia de EE.UU. dependen de la separación de la vasta mayoría de los musulmanes no-violentos de los yihadistas-islamistas radicales-militantes. Pero los esfuerzos estadounidenses no sólo han fracasado en este sentido: también han logrado lo contrario de lo que se proponían". (5) En ninguna parte este fracaso fue más evidente que en la indiferencia — incluso el regocijo — mostrado por Rumsfeld y sus generales ante el saqueo del 11 y del 12 de abril de 2003, del Museo Nacional de Bagdad y el incendio el 14 de abril de 2003 de la Biblioteca y de los Archivos Nacionales así como de la Biblioteca de Coranes en el Ministerio de Fundaciones Religiosas. Estos eventos, fueron, según Paul Zimansky, arqueólogo de la Universidad de Boston, "el mayor desastre cultural de los últimos 500 años". Eleanor Robson de All Souls College, Oxford, dijo: "Hay que retroceder siglos, a la invasión mongol de Bagdad en 1258, para hallar saqueos de esta dimensión". (6) Pero el secretario Rumsfeld comparó el saqueo con las secuelas de un partido de fútbol y lo descartó con el comentario de que "La libertad es desaliñada… La gente libre posee la libertad para hacer errores y cometer crímenes". (7)

 

 

El museo arqueológico de Bagdad ha sido considerado durante mucho tiempo como lo que es probablemente la más rica institución de su tipo en Medio Oriente. Es difícil decir con precisión todo lo que se perdió allí durante esos días catastróficos de abril en 2003 porque los catálogos puestos al día de sus pertenencias, muchas de ellas jamás descritas en revistas arqueológicas, también fueron destruidos por los saqueadores o estaban incompletos por las condiciones en Bagdad después de la Guerra del Golfo de 1991. Uno de los mejores archivos, aunque parcial, de sus pertenencias es el catálogo de artículos que el museo prestó en 1988 a una exposición realizada en la antigua capital de Japón, Nara, intitulada Civilizaciones de la Ruta de la Seda. Pero, como dijera un funcionario del museo a John Burns de New York Times después del saqueo: "Todo desapareció, todo desapareció. Todo desapareció en dos días". (8)

 

 

Un singular libro indispensable, hermosamente ilustrado, publicado por Milbry Park y Angela M.H. Schuster, The Looting of the Iraq Museum, Baghdad: The Lost Legacy of Ancient Mesopotamia (New York: Harry N. Abrams, 2005), representa el desconsolador intento de más de una docena de especialistas en arqueología del antiguo Irak de especificar lo que había en el museo antes de la catástrofe, dónde habían sido excavados los objetos, y la condición de los pocos miles de artículos que han sido recuperados. Los editores y autores han dedicado una parte de los beneficios del libro al Consejo Estatal de Antigüedades y Patrimonio de Irak.

 

 

En una conferencia sobre críminalidad con obras de arte realizada en Londres un año después del desastre, John Curtis, del Museo Británico, informó que por lo menos la mitad de los objetos robados no habían sido recuperados y que de unos 15.000 objetos saqueados de las vitrinas y almacenes del museo, mas de 8.000 aún no han sido ubicados. Toda su colección de 5.800 sellos de cilindro y tablillas con escritura cuneiforme y otras inscripciones, algunas provenientes de los primeros descubrimientos de la propia escritura, fue robada. (9) Desde entonces, como resultado de una amnistía para los saqueadores, unos 4.000 artefactos han sido recuperados en Irak, y más de mil han sido confiscados en Estados Unidos. (10). Curtis señaló que controles al azar de soldados occidentales que partían de Irak han llevado a la identificación de varios que poseían ilegalmente objetos antiguos. Agentes de aduana en EE.UU. descubrieron otros. Funcionarios en Jordania incautaron unas 2.000 piezas contrabandeadas de Irak; en Francia, 500 piezas; en Italia, 300; en Siria, 300; y en Suiza, 250. Cantidades inferiores fueron confiscadas en Kuwait, Arabia Saudí, Irán, y Turquía. Ninguno de estos objetos ha sido devuelto hasta ahora a Bagdad.

 

 

Las 616 piezas que forman la famosa colección de "oro de Nimrud", excavada por los iraquíes a fines de los años ochenta de las tumbas de las reinas asirias en Nimrud, a unos pocos kilómetros al sudeste de Mosul, fueron salvadas, pero sólo porque el museo las había llevado en secreto a las bóvedas subterráneas del Banco Central de Irak durante la primera Guerra del Golfo. Cuando los estadounidenses finalmente protegieron el banco en 2003, su edificio era una armazón calcinada llena de vigas retorcidas de metal por el colapso del techo y de todos los nueve pisos que se encontraban debajo. Sin embargo, los compartimientos subterráneos y sus contenidos sobrevivieron sin daño. El 3 de julio de 2003, una pequeña parte de la colección Nimrud fue expuesta durante unas pocas horas, permitiendo que un puñado de funcionarios iraquíes la viera por primera vez desde 1990. (11)

 

 

La quema de libros y manuscritos en la Biblioteca de Coranes y en la Biblioteca Nacional fue en sí un desastre histórico de primera magnitud. La mayoría de los documentos imperiales otomanos y los antiguos archivos reales sobre la creación de Irak fueron reducidos a cenizas. Según Humberto Márquez, escritor venezolano y autor de "Historia Universal de La Destrucción de Los Libros" (2004), cerca de un millón de libros y diez millones de documentos fueron destruidos por los incendios del 14 de abril de 2003. (12). Robert Fisk, el veterano corresponsal en Medio Oriente del Independent de Londres, estuvo en Bagdad el día de los incendios. Corrió a las oficinas de la Oficina de Asuntos Civiles de los Marines de EE.UU. y dio al oficial a cargo la ubicación exacta en el mapa de los dos archivos y sus nombres en árabe y en inglés, y señaló que se podía ver el humo a 5 kilómetros de distancia. El oficial gritó a uno de sus colegas: "Este tipo dice que hay alguna biblioteca bíblica que se quema", pero los estadounidenses no hicieron nada por extinguir las llamas. (13)

 

 

El Burger King de Ur

 

 

En vista del valor en el mercado negro de objetos de arte antiguo, los dirigentes militares de EE.UU. habían recibido la advertencia de que el saqueo de todos los trece museos nacionales en todo el país sería un peligro particularmente grave en los días después de la captura de Bagdad y de su toma de control de Irak. En el caos que siguió a la Guerra del Golfo de 1991, vándalos habían robado unos 4.000 objetos de nueve museos regionales diferentes. En términos monetarios, el comercio ilegal en antigüedades es la tercera forma más lucrativa de comercio internacional, excedida en el ámbito global sólo por el contrabando de drogas y las ventas de armas. (14) Considerando la riqueza del pasado de Irak, también existen más de 10.000 sitios arqueológicos importantes esparcidos por el país, de los cuales sólo 1.500 han sido estudiados. Después de la Guerra del Golfo, varios fueron excavados ilegalmente y sus artefactos vendidos a coleccionistas internacionales inescrupulosos en los países occidentales y Japón. Todo esto era conocido por los comandantes estadounidenses.

 

 

En enero de 2003, antes de la invasión de Irak, una delegación estadounidense de eruditos, directores de museos, coleccionistas de arte, y comerciantes en antigüedades se reunieron con funcionarios en el Pentágono para discutir la próxima invasión. Advirtieron específicamente que el Museo Nacional de Bagdad era el sitio más importante del país. McGuire Gibson del Instituto Oriental de la Universidad de Chicago dijo: "Pensé que me habían garantizado que los sitios y museos serían protegidos" (15). Gibson volvió dos veces al Pentágono para discutir los peligros, y él y sus colegas enviaron varios correos electrónicos recordatorios a oficiales militares en las semanas antes de que comenzara la guerra. Sin embargo, el Guardian de Londres del 14 de abril de 2003 informó sobre un preludio más siniestro de lo que quedaba por venir: ricos coleccionistas estadounidenses con conexiones con la Casa Blanca se ocuparon de "persuadir al Pentágono para que relajara la legislación que protege el patrimonio de Irak, que impide su venta en el extranjero". El 24 de enero de 2003, unos sesenta coleccionistas y comerciantes basados en Nueva York se organizaron en un nuevo grupo llamado el Consejo Estadounidense por la Política Cultural y se reunieron con funcionarios de la administración Bush y del Pentágono para argumentar que un Irak post-Sadam debería tener leyes relajadas sobre las antigüedades. (16). Sugirieron que la apertura del comercio privado en artefactos iraquíes, ofrecería a esos artículos una mejor seguridad que la que recibirían en Irak.

 

 

La principal salvaguardia legal internacional para instituciones y sitios importantes desde el punto de vista histórico y humanista es la Convención de La Haya por la Protección de la Propiedad Cultural en Caso de Conflictos Armados, firmada el 14 de mayo de 1954. EE.UU. no participa en esa convención, sobre todo porque durante la Guerra Fría, temía que el tratado podría restringir su libertad de lanzarse a una guerra nuclear; pero durante la Guerra del Golfo de 1991 el administración de Bush padre aceptó las reglas de la convención y cumplió con una "lista de objetivos de no-fuego" de sitios en los que sabía que existían ítems de valor cultural. (17) La UNESCO y otros guardianes de artefactos culturales esperaban que la administración de Bush hijo seguiría los mismos procedimientos en la guerra de 2003.

 

 

Además, el 26 de marzo de 2003, la Oficina de Reconstrucción y Ayuda Humanitaria (ORHA, por sus siglas en inglés) del Pentágono, dirigida por el teniente general en retiro Jay Garner — la autoridad civil que EE.UU. había establecido para el momento en que cesaran las hostilidades — envió a todos los altos comandantes de EE.UU. una lista de dieciséis instituciones que "merecen protección lo más pronto posible para impedir más daño, destrucción, y / o robo de catálogos y bienes". El memorando de cinco páginas, enviado dos semanas antes de la caída de Bagdad, decía también: "Las fuerzas de la coalición deben asegurar esas instalaciones a fin de impedir saqueos y la resultante pérdida irreparable de tesoros culturales" y que "los saqueadores deben ser arrestados / detenidos". El primero en la lista de sitios a proteger del general Garner era el Banco Central de Irak, que ahora es una ruina; el segundo era el Museo de Antigüedades. En el sitio dieciséis figuraba el Ministerio de Petróleo, el único sitio que las fuerzas de EE.UU. que ocuparon Bagdad defendieron realmente. Martin Sullivan, presidente del Comité de Consejo del presidente sobre Propiedad Cultural durante los ocho años anteriores, y Gary Vikan, director del Museo de Arte Walters en Baltimore y miembro del comité, renunciaron ambos para protestar contra el hecho que CENTCOM no obedeciera las órdenes. Sullivan dijo que era "imperdonable" que el museo no haya tenido la misma prioridad que el Ministerio de Petróleo. (18)

 

 

Como ahora sabemos, las fuerzas estadounidenses no hicieron ningún esfuerzo por impedir el saqueo de las grandes instituciones culturales de Irak: sus soldados simplemente contemplaban a los vándalos que entraban e incendiaban los edificios. Said Arjomand, editor de la revista Studies on Persianate Societies y profesor de sociología en la Universidad del Estado de Nueva York en Stony Brook, escribió: "Nuestras tropas, que han estado protegiendo orgullosamente el Ministerio de Petróleo, donde no hay un solo cristal roto, condonaron deliberadamente estos horrendos eventos". (19) Los comandantes estadounidenses afirman que, al contrario, estaban demasiado ocupados combatiendo y carecían de suficientes soldados para proteger el museo y las bibliotecas. Sin embargo, parece ser una explicación improbable. Durante la batalla por Bagdad, los militares de EE.UU. estuvieron perfectamente dispuestos a despachar unos 2.000 soldados para proteger los campos petrolíferos del norte de Irak, y sus antecedentes respecto a las antigüedades no mejoraron después de que los combates disminuyeron. En la ciudad sumeria de Ur, de 6.000 años de antigüedad, con su masivo, zigurat, o torre escalonada del templo (construida en el período entre 2112 y 2095 aC y restaurada por Nabucodonosor II en el siglo VI aC), los marines pintaron graffítis con su consigna: "Semper Fi" (semper fidelis, siempre fieles) sobre los muros (20). Los militares convirtieron entonces el monumento en zona prohibida para todos a fin de ocultar la profanación que había tenido lugar, incluyendo el saqueo por soldados de EE.UU. de ladrillos de arcilla utilizados en la construcción de los antiguos edificios.

 

 

Hasta abril de 2003, el área alrededor de Ur, cerca de Nasiriyah, estaba aislada y era sacrosanta. Sin embargo, los militares eligieron el terreno inmediatamente adyacente al zigurat para construir su inmensa Base Aérea Tallil, con dos pistas de aterrizaje de 4.000 y 3.200 metros de largo respectivamente y cuatro campos satélites. Al hacerlo, los ingenieros militares movieron más de 9.500 cargas de camiones de tierra a fin de construir 32.500 metros cuadrados de hangares y otras instalaciones para aviones y aviones teledirigidos Predator. Arruinaron completamente el área, el corazón literal de la civilización humana, para cualquier investigación arqueológica o turismo futuros. El 24 de octubre de 2003, según la Organización Global de Seguridad, el Ejército y la Fuerza Aérea construyeron su propio zigurat moderno: "Abrieron su segundo Burger King en Tallil. La nueva instalación co-ubicada con (un) … Pizza Hut, asegura que haya otro restaurante Burger King para que más soldados de ambos sexos que sirven en Irak puedan, aunque sea por un momento, olvidar sus tareas en el desierto y obtener un hálito de ese perfume familiar que los devuelve a casa". (21)

 

 

El gran arqueólogo británico, Sir Max Mallowan (esposo de Agatha Christie), que fue pionero de las excavaciones en Ur, Nineveh y Nimrud, cita algunos consejos clásicos que podrían haber llevado a los estadounidenses a algo más de prudencia: "Era peligroso perturbar los monumentos antiguos… Era sabio e históricamente importante mostrar reverencia hacia los legados de tiempos antiguos. Ur era una ciudad infestada por los fantasmas del pasado y era prudente apaciguarlos". (22)

 

 

El comportamiento estadounidense en otros sitios de Irak no fue mejor. En Babilonia, las fuerzas estadounidenses y polacas construyeron un depósito militar, a pesar de las objeciones de los arqueólogos. John Curtis, la autoridad sobre los numerosos sitios arqueológicos de Irak del Museo Británico, informó sobre una visita en diciembre de 2004 en la que vio "grietas y brechas donde alguien había tratado de escoplear los ladrillos decorados que formaban los famosos dragones de la Puerta Ishtar" y un "pavimento de 2.600 años de antigüedad apisonado por vehículos militares". (23) Otros observadores dicen que el polvo levantado por los helicópteros de EE.UU. había erosionado la frágil fachada de ladrillos del palacio de Nabudonosor II, rey de Babilonia de 605 a 562 aC (24) El arqueólogo Zainab Bahrani informa: "Entre mayo y agosto de 2004, el muro del Templo de Nabu y el techo del Templo de Ninmah, ambos del siglo VI aC, se derrumbaron como resultado del movimiento de helicópteros. Cerca de allí, máquinas y vehículos pesados están aparcados sobre los restos de un teatro griego de la era de Alejandro de Macedonia (Alejandro Magno)". (25)

 

 

Y ninguno de estos eventos comienza siquiera a tratar del masivo, continuo, saqueo de los sitios históricos en todo Irak por ladrones por cuenta propia de tumbas y antigüedades, preparándose para decorar las salas de estar de los coleccionistas occidentales. El incesante caos y la falta de seguridad llevados a Irak por nuestra invasión han significado que un futuro Irak pacífico tendrá dificultades para exhibir un patrimonio. No deja de ser un logro de la administración Bush que la cuna del pasado humano haya sido arrojada al mismo tipo de caos y falta de seguridad como el presente iraquí. Si la amnesia es una bendición, la suerte de las antigüedades de Irak representa una especie de paraíso moderno.

 

 

Los partidarios del presidente Bush han hablado interminablemente de su guerra global contra el terrorismo como de un "choque de civilizaciones". Pero la civilización que estamos destruyendo en Irak forma parte de nuestro propio patrimonio. También forma parte de la herencia del mundo. Antes de nuestra invasión de Afganistán, condenamos a los talibán por dinamitar las monumentales estatuas budistas del siglo III DC en Bamiyan en marzo de 200º1. Eran dos estatuas gigantescas de destacado valor histórico y la barbarie involucrada en su destrucción fue proclamada en grandes titulares y comentarios horrorizados en nuestro país. Hoy en día, nuestro propio gobierno es culpable de crímenes mucho más graves cuando se trata de la destrucción de todo un universo de antigüedad, y pocos aquí, cuando consideran las actitudes iraquíes hacia la ocupación estadounidense, se dan la molestia de considerarlos. Pero lo que no queremos recordar, puede ser que quede demasiado bien registrado en la memoria de otros.

 

 

NOTAS

 

[1] American Embassy, London, " Visit of President Bush to Northern Ireland, April 7-8, 2003."

 

[2] William R. Polk, "Introduction," Milbry Polk and Angela M. H. Schuster, eds., The Looting of the Iraq Museum: The Lost Legacy of Ancient Mesopotamia (New York: Harry N. Abrams, 2005), p. 5. Also see Suzanne Muchnic, "Spotlight on Iraq's Plundered Past," Los Angeles Times, June 20, 2005.

 

[3] David Fromkin, A Peace to End All Peace: The Fall of the Ottoman Empire and the Creation of the Modern Middle East (New York: Owl Books, 1989, 2001), p. 450.

 

[4] Discurso de George Bush al pueblo iraquí, difundido en "Towards Freedom TV," 10c de abril de 2003.

 

[5] Office of the Under Secretary of Defense for Acquisition, Technology, and Logistics, Report of the Defense Science Board Task Force on Strategic Communication (Washington, D.C.: September 2004), pp. 39-40.

 

[6] Vea Frank Rich, "And Now: 'Operation Iraqi Looting,'" New York Times, April 27, 2003.

 

[7] Robert Scheer, "It's U.S. Policy that's 'Untidy,'" Los Angeles Times, April 15, 2003; reproducido en Books in Flames, Tomdispatch, April 15, 2003.

 

[8] John F. Burns, "Pillagers Strip Iraqi Museum of Its Treasures," New York Times, April 13, 2003; Piotr Michalowski (University of Michigan), The Ransacking of the Baghdad Museum is a Disgrace, History News Network, April 14, 2003.

 

[9] Polk and Schuster, op. cit, pp. 209-210.

 

[10] Mark Wilkinson, Looting of Ancient Sites Threatens Iraqi Heritage, Reuters, June 29, 2005.

 

[11] Polk and Schuster, op. cit., pp. 23, 212-13; Louise Jury, "At Least 8,000 Treasures Looted from Iraq Museum Still Untraced," Independent, May 24, 2005; Stephen Fidler, "'The Looters Knew What They Wanted. It Looks Like Vandalism, but Organized Crime May be Behind It,'" Financial Times, May 23, 2003; Rod Liddle, The Day of the Jackals, Spectator, April 19, 2003.

 

[12] Humberto Márquez, Iraq Invasion the 'Biggest Cultural Disaster Since 1258,' Antiwar.com, February 16, 2005.

 

[13] Robert Fisk, "Library Books, Letters, and Priceless Documents are Set Ablaze in Final Chapter of the Sacking of Baghdad," Independent, April 15, 2003.

 

[14] Polk and Schuster, op. cit., p. 10.

 

[15] Guy Gugliotta, "Pentagon Was Told of Risk to Museums; U.S. Urged to Save Iraq's Historic Artifacts," Washington Post, April 14, 2003; McGuire Gibson, "Cultural Tragedy In Iraq: A Report On the Looting of Museums, Archives, and Sites," International Foundation for Art Research.

 

[16] Rod Little, op. cit..; Oliver Burkeman, Ancient Archive Lost in Baghdad Blaze, Guardian, April 15, 2003.

 

[17] Vea: James A. R. Nafziger, Art Loss in Iraq: Protection of Cultural Heritage in Time of War and Its Aftermath, International Foundation for Art Research.

 

[18] Paul Martin, Ed Vulliamy, and Gaby Hinsliff, U.S. Army was Told to Protect Looted Museum, Observer, April 20, 2003; Frank Rich, op. cit.; Paul Martin, "Troops Were Told to Guard Treasures," Washington Times, April 20, 2003.

 

 

[19] Said Arjomand, Under the Eyes of U.S. Forces and This Happened?, History News Network, April 14, 2003.

 

[20] Ed Vulliamy, Troops 'Vandalize' Ancient City of Ur, Observer, May 18, 2003; Paul Johnson, Art: A New History (New York: HarperCollins, 2003), pp. 18, 35; Polk and Schuster, op. cit., p. 99, fig. 25.

 

[21] Tallil Air Base, GlobalSecurity.org.

 

 

[22] Max Mallowan, Mallowan's Memoirs (London: Collins, 1977), p. 61.

 

[23] Rory McCarthy and Maev Kennedy, Babylon Wrecked by War, Guardian, January 15, 2005.

 

[24] Owen Bowcott, Archaeologists Fight to Save Iraqi Sites, Guardian, June 20, 2005.

 

[25] Zainab Bahrani, "The Fall of Babylon," in Polk and Schuster, op. cit., p. 214.

 

Copyright 2005 Chalmers Johnson

 

Este ensayo es un pasaje de "Nemesis: The Crisis of the American Republic", de Chalmers Johnson que será publicado por Metropolitan Books a fines de 2006, el último volumen de "Blowback Trilogy". Los primeros dos volúmenes son "Blowback: The Costs and Consequences of American Empire" (2000) y "The Sorrows of Empire: Militarism, Secrecy, and the End of the Republic" (2004).

 

Título original: The Smash of Civilizations

http://www.zmag.org/content/showarticle.cfm?SectionID=15&ItemID=8248

Tradução para o espahol: Germán Leyens

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