Como os serviços manipulam o cinema, este filme foi possível graças à CIA

 

 


Eduardo Febbro
Rebelión
7 de agosto de 2002

Tradução Imediata

A imagem limpa do herói norte-americano, do policial justo, do agente secreto capaz de sacrificar tudo pelo bem do seu país, dos serviços secretos funcionando como uma máquina perfeita, não são somente produto do zelo dos roteiristas de Hollywood, mas o resultado de uma estreita colaboração entre Hollywood e a própria CIA. A cumplicidade entre os roteiristas de Hollywood e os serviços secretos excede de muito o mero intercâmbio de informações sobre os métodos operacionais dos homens da penumbra. Vários protagonistas responsáveis do cinema europeu evocam abertamente um "trabalho estreito" que aponta não ao enriquecimento dos roteiros, mas sobretudo depois dos atentados do 11 de setembro, a dar uma imagem positiva da CIA e, com frequência, a mudar radicalmente a história, transformando-a "em história oficial". O ator norte-americano Tom Cruise é descrito por alguns responsáveis do cinema francês como o "embaixador da CIA" nos telões. Segundo as palavras de um produtor francês, sob estrito anonimato, "para os norte-americanos, trata-se de realizar películas onde se contemplam as piores catástrofes possíveis, nas quais, graças à oportuna intervenção da CIA, essas catástrofes não se produzem".

As instituições francesas encarregadas de fazer a recontagem das produções cinematográficas que ocupam os anúncios de propaganda, assim como os especialistas que estudam o conteúdo e o gênero das narrações, chegam a resultados similares. Desde o último 11 de setembro, a terça parte dos filmes norte-americanos que batem recordes de audiência são filmes cujo tema é a guerra ou cujo roteiro está baseado numa mesma mola: terroristas do Oriente Médio ou da Europa do Leste, nazistas e grupos de todas as tendências roubam um dispositivo atômico com o qual planejam destruir os Estados Unidos, porém a abnegada, corajosa e "inteligente" intervenção da CIA impede que os homens maus alcancem seus fins. O roteirista, ator e produtor Kit Carson (A matança de Texas 2) explicava em Paris que os serviços de inteligência dos Estados Unidos solicitaram aos roteiristas que "imaginassem os piores cenários que poderiam ocorrer, com atentados terroristas que envolvessem a sociedade norte-americana". Carson contou também que uma vez por mês, representantes da CIA e roteiristas de Hollywood se reúnem "com o objetivo de sentir o pulso do imaginário cerrado com os futuros mais negros possíveis". Além disso, esse "trabalho" mancomunado tem ramificações muito mais profundas do que a exploração do imaginário evocada por Carson. Em uma entrevista concedida ao vespertino francês Le Monde, Chase Brandon, o agente membro do serviço de relações públicas da CIA encarregado dos contatos com Hollywood, reconhecia ele mesmo que "ajuda os diretores de televisão, de cinema e de documentários que querem dar uma imagem justa e imparcial da CIA". A lista de filmes recentes nas quais a CIA interveio é demasiadamente eloquente. Brandon cita o filme que acaba de estrear Bad Company, de Joel Schumacher, A Soma de Todos os Medos, The Recruit (Robert De Niro e Anthony Hopkins), A Queda do Falcão Negro e Inimigo de Estado.

A crítica européia nota com acerto que depois dos filmes sobre a guerra do Vietnã distribuídos em meados dos anos 80 (Pelotão, Hamburger Hill, Apocalipse Now) e aqueles realizados igualmente durante as presidências de Ronald Reagan (Rambo, Top Gun, Exterminator) nunca como agora o cinema norte-americano pareceu estar tão próximo do ponto de vista oficial de Washington. A imbricação entre o cinema e o governo é tão mais evidente quanto os responsáveis norte-americanos do peso do vice-presidente Dick Cheney, do secretário da Defesa Donald Rumsfeld ou do próprio presidente George Bush assistem as primeiras projeções dos filmes cujo tema é a guerra ou a sobrevivência do país. Esse é o caso de A Queda do Falcão Negro, o filme de Ridley Scott que mostra o estampido dos soldados enviados por Washington à Somalia e estreada, como muitas outras do mesmo gênero, na capital norte-americana. Um detalhe ainda mais inquietante do que corre no telão são os efeitos que têm as superproduções de Hollywood na sociedade, o fiscal geral dos Estados Unidos, John Ashcroft, esperou um pouco mais de uma semana para que o filme A Soma de Todos os Medos estivesse em primeiro lugar na bilheteria, antes de anunciar a captura de Abduljah al-Mujahir, aliás José Padilla, o presumido membro da rede Al-Qaida que, segundo a versão oficial, estava prestes a cometer atentado similar ao que era mostrado no filme, ou seja com um bomba de nêutrons. Outro detalhe prova até que ponto a realidade e a ficção podem servir aos interesses comuns: quando Ashcroft anunciou a apreensão de Padilla, o oficial norte-americano se encontrava nesse momento em Moscou... E um dos argumentos centrais de A Soma de Todos os Medos consiste em mostrar como a cooperação russo-norte-americana evita que o planeta seja devorado pelos terroristas.

Para os roteiristas e produtores europeus, hoje passamos por uma etapa na qual a maioria dos filmes provenientes dos Estados Unidos correspondem à "arte oficial". Se a "colaboração" entre a indústria cinematográfica norte-americana e os serviços secretos ou o exército não é nova —todos já assistiram uma extensa série de filmes onde o soldado norte-americano, o aviador ou o agente secreto salvam o mundo— essa de agora atinge dimensões inéditas e se parece com uma autêntica estratégia de comunicação oficial. As ficções heróicas que exibem o êxito dos serviços de inteligência tendem a obliterar a realidade: as Torres Gêmeas de Nova York desapareceram mediante um atentado terrorista e nem a CIA, nem a NSA (Agência Nacional de Segurança) nem o FBI puderam fazer nada para evitá-lo.

No telão é outra coisa. Chase Brandon, o homem da CIA nos estúdios de Hollywood, admite com orgulho a existência dessa estratégia. "Nós —afirma—, protegemos a liberdade e a segurança dos norte-americanos. Lutamos contra a proliferação das armas e o terrorismo. Nos cinemas, somos mostrados como vilões e não como heróis. É insuportável. Porém como a CIA é uma organização confidencial, os roteiristas imaginam o que não é e isso explica a imagem catastrófica que o cinema deu da CIA nos anos 70 e 80. George Tenet, o diretor da CIA, decidiu comunicar através do cinema. E hoje, os filmes dão uma imagem mais realista do que somos." A central norte-americana é tão zelosa de sua imagem que é até capaz de "suspender" a colaboração com Hollywood se o roteiro não lhe convém.

Conforme conta Brandon, foi isso que ocorreu com o filme Spy Game. A Universal remeteu o roteiro para a CIA, e a Agência trabalhou no mesmo até que "renunciou, porque o roteiro mostrava um dos chefes da CIA indiferente com o destino de um de seus agentes, o que é impensável". Ao contrário, A Soma de Todos os Medos deu lugar a uma "fusão" real entre a Paramount e a CIA, porém o filme de Phil Alden Robinson é tão oficial, responde tanto ao heroísmo perfeito da CIA que termina dando una visão infantil, primária, das relações geopolíticas.

Aquilo que parecia impensável antes do 11 de setembro se tornou um hábito das produções hollywoodianas: filmes catastróficos, com terroristas que pulam por todas as partes, armados com bombas nucleares, com bombas de nêutrons, dispostos a fazer voar um estádio lotado, uma cidade como San Diego ou a atacar a Casa Branca. O novo estilo contrasta com os anos rebeldes durante os quais os homens da CIA e do FBI eram o que Jonathan Kuntz, professor de crítica cinematográfica na universidade da Califórnia, qualifica de "personagens negativos". Kuntz conta que com o fim "de seduzir of jovens, os roteiristas se inscreviam nos moldes da contestação, da contracultura". Essa época acabou se tornando uma lembrança. O chamado "esforço patriótico" mobiliza há quase um ano os mais insuspeitados protagonistas da arte das massas, os roteiristas de Hollywod, a serviço das agências de informações cuja moralidade está longe de ser transparente. Chase Brandon, ex-agente secreto que trabalhou na América do Sul, foi especialmente nomeado "homem de imprensa" e "consultor técnico" dos estúdios de Hollywood. A magia do cinema responde aos imperativos de um Estado, antes que às exigências da arte.

 

 

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7 de agosto del 2002

Como los servicios manipulan al cine

Esta película ha sido posible gracias a la CIA

Eduardo Febbro

Página 12

La imagen limpia del héroe norteamericano, del policía justo, del agente secreto capaz de sacrificarlo todo por el bien de su país, de los servicios secretos funcionando como una máquina perfecta no son sólo producto del celo de los guionistas de Hollywood sino el resultado de una estrecha colaboración entre Hollywood y la misma CIA. La implicación entre los guionistas de Hollywood y los servicios secretos excede en mucho el mero intercambio de informaciones sobre los métodos operativos de los hombres de la sombra. Varios responsables del cine europeo evocan abiertamente un "trabajo estrecho" que apunta no ya a enriquecer los guiones sino, sobre todo luego de los atentados del 11 de septiembre, a dar una imagen positiva de la CIA y, a menudo, a cambiar radicalmente la historia transformándola "en historia oficial". El actor norteamericano Tom Cruise es descripto por algunos responsables del cine francés como el "embajador de la CIA" en la pantalla grande. Según sintetiza un productor francés bajo el estricto anonimato, "para los norteamericanos, se trata de realizar películas donde se contemplan las peores catástrofes posibles y en las que, gracias a la oportuna intervención de la CIA, esas catástrofes no se producen".

Las instituciones francesas encargadas de hacer el recuento de las producciones cinematográficas que ocupan la cartelera así como los especialistas que estudian el contenido y el género de las narraciones llegan a resultados similares. Desde el pasado 11 de septiembre, una tercera parte de las películas norteamericanas que rompen records de audiencia son películas cuyo tema es la guerra y cuyo guión está basado en un mismo resorte: terroristas de Medio Oriente o Europa del Este, nazis y grupos de toda índole roban un dispositivo atómico con el que planean destruir Estados Unidos, pero la abnegada, corajuda e "inteligente" intervención de los agentes de la CIA impide que los hombres malos lleguen a sus fines. El guionista, actor y productor Kit Carson (La matanza de Texas 2) explicaba en París que los servicios de inteligencia de Estados Unidos solicitaron a los guionistas que "imaginen los peores escenarios que puedan existir, con atentados terroristas que involucren a la sociedad norteamericana". Carson contó además que una vez por mes, representantes de la CIA y guionistas de Hollywood se reúnen "a fin de tomarle el pulso al imaginario poblado con los futuros más negros posibles". Sin embargo, ese "trabajo" mancomunado tiene ramificaciones mucho más profundas que la exploración del imaginario evocada por Carson. En una entrevista concedida al vespertino francés Le Monde, Chase Brandon, el agente miembro del servicio de relaciones públicas de la CIA encargado de los contactos con Hollywood, reconocía que él mismo "ayuda a los directores de televisión, de cine y de documentales que quieren dar una imagen justa e imparcial de la CIA". La lista de películas recientes en las que la CIA intervino es por demás elocuente. Brandon cita a la recién estrenada Bad Company, de Joel Schumacher, a La suma de todos los miedos, The Recruit (Robert De Niro y Anthony Hopkins), La caída del Halcón Negro y Enemigo de estado.

La crítica europea nota con acierto que luego de las películas sobre la guerra de Vietnam distribuidas a mediados de los años 80 (Pelotón, Hamburger Hill, Apocalipsis Now) y aquellas realizadas igualmente durante las presidencias de Ronald Reagan (Rambo, Top Gun, Exterminator) nunca como ahora el cine norteamericano pareció estar tan cerca del punto de vista oficial de Washington. La imbricación entre el cine y la administración es tanto más evidente cuanto que responsables norteamericanos del peso del vicepresidente Dick Cheney, del secretario de Defensa Donald Rumsfeld o del mismo presidente George Bush asisten a las primeras proyecciones de las películas cuyo tema es la guerra o la supervivencia del país. Tal es el caso de La caída del Halcón Negro, la película de Ridley Scott que muestra la estampida de los soldados enviados por Washington a Somalía y estrenada, al igual que muchas otras del mismo género, en la capital norteamericana. Detalle aún más inquietante que corre el telón sobre los efectos que tienen las superproducciones de Hollywood en la sociedad, el fiscal general de Estados Unidos, John Ashcroft, esperó algo más de una semana para que la película La suma de todos los miedos estuviera primera en las taquillas antes de anunciar el arresto de Abduljah al-Mujahir, alias José Padilla, el presunto miembro de la red Al-Qaida que, según la versión oficial, se aprestaba a cometer un atentado similar al que se narraba en la película, es decir, con una bomba de neutrones. Otro detalle prueba hasta qué punto la realidad y la ficción pueden servir intereses comunes: cuando Ashcroft anunció el arresto de Padilla, el responsable norteamericano se encontraba en ese momento en Moscú... Y uno de los argumentos centrales de La suma de todos los miedos consiste en mostrar cómo la cooperación ruso-norteamericana evita que el planeta sea devorado por los terroristas.

Para los guionistas y productores europeos, hoy hemos pasado a una etapa en la que la mayoría de las películas provenientes de Estados Unidos corresponden al "arte oficial". Si la "colaboración" entre la industria cinematográfica norteamericana y los servicios secretos o el ejército no es nueva —todos han visto una extensa serie de películas donde el soldado norteamericano, el aviador o el agente secreto salvan al mundo— la de ahora alcanza dimensiones inéditas y se parece a una auténtica estrategia de comunicación oficial. Las ficciones heroicas que exhiben el éxito de los servicios de inteligencia tienden a borrar la realidad: las Torres Gemelas de Nueva York desaparecieron mediante un atentado terrorista y ni la CIA, ni la NSA (Agencia Nacional de Seguridad) ni el FBI pudieron hacer nada para evitarlo.

En la pantalla grande es otra cosa. Chase Brandon, el hombre de la CIA en los estudios de Hollywood, admite con orgullo la existencia de esa estrategia. "Nosotros —afirma—, protegemos la libertad y la seguridad de los norteamericanos. Luchamos contra la proliferación de las armas y el terrorismo. En el cine se nos muestra como villanos y no como héroes. Es insoportable. Pero como la CIA es una organización confidencial, los guionistas imaginan lo que no es y ello explica la imagen catastrófica que el cine dio de la CIA en los años '70 y '80. George Tenet, el director de la CIA, decidió comunicar a través del cine. Y hoy, las películas dan una imagen más realista de nosotros." La central norteamericana es tan celosa de su imagen que hasta es capaz de "suspender" la colaboración con Hollywood si el guión no le conviene.

Según cuenta Brandon, eso fue lo que ocurrió con la película Spy Game. La Universal remitió el guión a la CIA, y la Agencia trabajó en él hasta que "renunció porque el guión mostraba a uno de los jefes de la CIA indiferente ante la suerte de uno de sus agentes, lo que es impensable". En cambio, La suma de todos los miedos dio lugar a una "fusión" real entre la Paramount y la CIA pero la película de Phil Alden Robinson es tan oficial, responde tanto al heroísmo perfecto de la CIA que termina dando una visión aniñada, primaria, de las relaciones geopolíticas.

Lo que parecía impensable antes del 11 de septiembre se tornó un hábito de las producciones hollywoodenses: películas catastróficas, con terroristas que pululan por todas partes, armados con bombas nucleares, con bombas a neutrones, dispuestos a hacer volar un estadio repleto, una ciudad como San Diego o a atacar la Casa Blanca. El nuevo estilo contrasta con los años rebeldes durante los cuales los hombres de la CIA y del FBI eran lo que Jonathan Kuntz, profesor de crítica cinematográfica en la universidad de California, califica como "personajes negativos". Kuntz acota que a fin "de seducir a los jóvenes los guionistas se inscribían en el molde de la contestación, de la contracultura". Esa época ha pasado a ser un recuerdo. El llamado "esfuerzo" patriótico moviliza desde hace casi un año a los más insospechados protagonistas del arte de masas, los guionistas de Hollywood, al servicio de agencias de informaciones cuya moralidad dista de ser transparente. Chase Brandon, ex agente secreto que trabajó en América del Sur, fue especialmente nombrado "hombre de prensa" y "consultor técnico" de los estudios de Hollywood. La magia del cine responde a los imperativos de un Estado antes que a las exigencias del arte.

 

 

 

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