Faculdades corporativas

 

 


Russell Mokhiber e Robert Weissman
commondreams.org
12 de abril de 2005

Tradução Imediata

Acreditem se quiserem, mas há um grupo de pais de alunos que preferem ensinar seus filhos em casa, porque acham que as escolas públicas foram destruídas pelas corporações.

A comida é lixo corporativo.

As roupas de passeio e as roupas esportivas estão cobertas de logos corporativos.

O currículo escolar é com freqüência patrocinado por predadores corporativos. (O vencedor de um concurso de ortografia patrocinado pelo diretor de uma escola local ganhou um pacote de prêmios do Wendy's, McDonald's ou Dairy Queen. Como se escreve ‘diabesidade’?)

Até a música é uma ‘porcaria’ cada vez mais inspirada pelas corporações, impulsionada grandemente por ‘pay-ola’.

E a moralidade das escolas é a moralidade do mercado.

Mas mesmo os mais ardentes anti-corporativos pais de alunos com freqüência desistem da luta quando seus filhos vão para a faculdade.

Aos 18 anos, o pequeno Johnny está cansado de ficar em casa.

E é hora de mandá-lo estudar fora, na Faculdade.

Podemos só imaginar o grau de corrupção da universidade pelos predadores corporativos.

Mas se dermos crédito ao que lemos no novo livro da jornalista Jennifer Washburn, então esse grau é bem profundo.

O título do livro de Washburn diz tudo -- University Inc.: The Corporate Corruption of Higher Education (Basic Books, 2005) [A Corrupção Corporativa da Educação Superior]. (Revelação: uma antiga pesquisa nossa é mencionada no livro.)

Se você ouve as estações de rádio de direita, ou se assiste à Fox News — como nós fazemos — então você poderia ter a impressão de que as universidades são dominadas por professores de esquerda, liberais e naturebas.

Caso contrário, você poderia acreditar que as universidades são organizações independentes sem fins lucrativos dedicadas à educação e à pesquisa.

Não é verdade, diz Washburn.

Tradicionalmente, as universidades não eram governadas pelas forças de mercado, e eram amplamente independentes de interesses comerciais.

Mas, nos últimos 25 anos, as universidades estão se comportando menos como universidades e mais como corporações.

Professores de biologia são consultores para, ou detêm ações de empresas que produzem os medicamentos que estão estudando, enquanto muitas vezes aceitam honorários para participarem de conselhos de assessoria corporativa.

Às vezes, os professores detêm patentes dos remédios ou outros produtos que estão sendo testados.

Editores de publicações especializadas freqüentemente reclamam que não podem encontrar professores que não tenham ligações comerciais para escrever artigos independentes de revisão de medicamentos.

Em 2003, a Stanford University assinou um contrato de dez anos e 225 milhões de dólares para estudar a mudança climática global, e que permite à Exxon e a outros patrocinadores corporativos de selecionarem quais serão os projetos de pesquisa que receberão os fundos, reporta Washburn.

A tendenciosidade na alocação de fundos para a pesquisa científica, econômica e política está se tornando um grave problema.

Numerosos estudos mostram agora que quando a pesquisa é financiada pela indústria, é mais provável que as conclusões da pesquisa estejam a favor dos interesses comerciais dos patrocinadores.

Às vezes, a corporação tenta dominar os pesquisadores mais independentes.

Basta ver esses exemplos citados no livro de Washburn:

A Syngenta, a companhia que produz o atrazine, um dos produtos mais utilizados para matar mato e ervas daninhas nos Estados Unidos, tentou silenciar Tyrone B. Hayes, biólogo na Universidade da Califórnia - Berkeley, depois que ele conduziu uma pesquisa que mostrou que a exposição a esse produto químico, em doses muitos pequenas, fez os sapos desenvolverem órgãos sexuais tanto masculinos quanto femininos, contemporaneamente. A companhia contratou cientistas de outra universidade para desacreditar a pesquisa de Hayes, e tentou convencer a Environmental Protection Agency (Órgão para a Proteção do Meio-ambiente dos EUA) para desconsiderar as conclusões daquela pesquisa.

Em outro caso, a Immune Research Corporation abriu um processo de 7 milhões de dólares contra um pesquisador de AIDS na UC San Francisco, depois que sua pesquisa concluiu que o medicamento da empresa apresentava a mesma eficácia de uma pastilha de açúcar.

Outro professor de biologia da UC, Ignacio Chapela, teve negado o seu mandato de professor de carreira na instituição, sob alegação de que era muito crítico do negócio estabelecido entre a UC e a Novartis, em novembro de 1998.

Eis o que ocorreu, segundo Washburn: a Novartis deu à UC Berkeley 25 milhões de dólares, distribuídos num período de cinco anos, para pesquisa básica no Departamento de Planta e Microbiologia.

Em troca, a Berkeley deu à Novartis os direitos preferenciais para negociar as licenças de cerca de um terço das descobertas do departamento. Também deu à empresa duas de cinco das cadeiras da comissão de pesquisa do departamento — órgão que determina como a verba deve ser gasta.

No outono de 2001, Chapela, talvez por ingenuidade, publicou um artigo em Nature, onde revelou a presença de DNA estrangeiro de plantas geneticamente modificadas, em variedades nativas do milho, no México.

O trabalho de Chapela foi imediatamente atacado pelo departamento de Planta da Berkeley/Novartis.

Quando Chapela se apresentou para obter sua validação como professor de carreira , o Colégio de Ciências Naturais votou 32 contra 1 em seu favor, mas o voto foi desqualificado pela comissão orçamentária da Universidade. Agora, Chapela está em litígio contra a universidade.

Washburn diz que há poucas dúvidas sobre o fato de que Chapela teve seu direito negado porque, com seu trabalho, desagradou seus amos corporativos em Berkeley.

Washburn fornece uma série de exemplos como esse, em seu livro.

E enquanto ela está viajando pelo país para promover o seu livro, professores estão entrando em contacto com ela para relatar histórias similares.

Mas o estrago foi feito.

As universidades perderam a visão de sua missão pública.

E o grau de corrupção não será conhecido até que o governo federal exija uma completa e total revelação de todas as ligações entre os professores públicos — aqueles que ensinam nas universidades públicas e aqueles que vivem de bolsas concedidas pelo governo federal — e as corporações privadas.

Há alguns anos, visitamos um amigo nosso em Lincoln, Nebraska.

Nosso amigo, que diplomou-se recentemente pela Universidade do Nebraska, levou-nos para fazer um tour do campus da universidade.

Paramos em frente do estádio de futebol Cornhuskers e olhamos para cima.

Nosso amigo apontou para o grande "N" vermelho, no topo do estádio, e perguntou a duas crianças estudantes que nos estavam acompanhando — "Vocês sabem o que quer dizer aquele ‘N’"?

"Como?" os estudantes perguntaram.

""Knowledge", (Conhecimento), respondeu o nosso amigo. (Ele é um comediante.)

A universidade corporativa acha que somos todos um bando de imbecis.

Eles querem que acreditemos que tudo é uma questão da linha final de lucro ou prejuízo final — de que tudo sempre foi uma questão dessa linha final.

Daí, Washburn pergunta: — Mas o que aconteceu com o conhecimento como um fim em si mesmo?

É só ler o livro dela para saber.

Russell Mokhiber é o editor de Corporate Crime Reporter, sediado em Washington, D.C. Robert Weissman é o editor de Multinational Monitor, sediado em Washington, D.C. Mokhiber e Weissman são co-autores de On the Rampage: Corporate Predators and the Destruction of Democracy (Monroe, Maine: Common Courage Press). Este artigo está publicado em http://lists.essential.org/pipermail/corp-focus/2005/000203.html

© 2005 Russell Mokhiber and Robert Weissman

###

Corporate College

by Russell Mokhiber and Robert Weissman

 

Published on Tuesday, April 12, 2005 by CommonDreams.org

Believe or not, there exists a group of homeschooling parents who teach their kids at home because they believe that the public schools have been destroyed by corporations.

The food is corporate junk.

The street clothes and sportswear are covered with corporate logos.

The curriculum is often sponsored by corporate predators. (The winner of a spelling bee sponsored by the local high school's principal last week won a choice of prizes from Wendy's, McDonald's or Dairy Queen. Can you spell diabesity?)

Even the music increasingly is corporate-inspired crapola, driven largely by payola.

And the morality of the schools is the morality of the marketplace.

But even the most ardent anti-corporate homeschooling parents often give up the fight when it comes to college.

At 18, little Johnny has had enough of being at home.

And it's time to send him off to --

College.

We can only guess at the extent of the corruption of academia by the corporate predators.

But if we are to believe what we read in journalist Jennifer Washburn's new book, then academia is in it deep.

The title of Washburn's book tells it all -- University Inc.: The Corporate Corruption of Higher Education (Basic Books, 2005). (Disclosure: an old research piece of ours is mentioned in the book.)

If you listen to right-wing radio, or watch Fox News -- as we do -- then you might be under the impression that universities are dominated by left-wing professors, liberals and cranks.

If you don't, you might believe that universities are independent non-profits dedicated to education and research.

Not true, Washburn says.

Traditionally, universities were not governed by market forces and were largely independent of commercial interests.

But over the past 25 years, universities are acting less like universities and more like corporations.

Biology professors consult for or hold equity in firms that manufacture the drugs they are studying, while often accepting fees to join corporate advisory boards.

Sometimes the professors hold the patents on drugs or other products being tested.

Editors of peer-reviewed journals often complain that they can't find professors who don't have commercial ties to write independent reviews of drugs.

In 2003, Stanford University signed a $225 million, 10-year contract to study global climate change, which allows Exxon and other corporate sponsors to select which research projects will receive funding, Washburn reports.

Funding bias in science, economic and policy research is becoming a grave problem.

Numerous studies now show that when research is industry funded it is more likely to reach conclusions that favor the sponsor's commercial interests.

Sometimes, the corporation tries to muscle the more independent of researchers.

Take these examples from Washburn's book:

Syngenta, the company that manufacturers atrazine, one of the most widely used weed killers in the United States, attempted to silence Tyrone B. Hayes, a biologist at UC Berkeley after he conducted research showing that exposure to this chemical, in very small doses, caused frogs to develop both female and male sex organs. The company hired scientists at another university to discredit his research, and tried to convince the Environmental Protection Agency to disregard his findings.

In another case, the Immune Research Corporation hit an AIDS researcher at UC San Francisco with a $7 million lawsuit after his research concluded that the company's drug was no more effective than a sugar pill.

Another UC biology professor, Ignacio Chapela, was denied tenure allegedly because he was a vocal critic of a November 1998 deal between UC and Novartis.

Here's the story, according to Washburn: Novartis gave UC Berkeley $25 million over five years for basic research in the Department of Plant and Microbiology.

In exchange, Berkeley gave Novartis first rights to negotiate licenses on roughly one third of the department's discoveries. It also gave the company two of five seats on the department's research committee -- which determined how the money was to be spent.

In the fall of 2001, Chapela, perhaps naive, published an article in Nature reporting that foreign DNA material from genetically modified plants was showing up in native varieties of corn in Mexico.

Chapela's paper was immediately attacked by the Berkeley/Novartis' plant department.

When Chapela came up for tenure, the College of Natural Sciences voted 32-to-1 in his favor, but that vote was overturned by the university's budget committee. Chapela is now in litigation against the university.

Washburn says there is little doubt that Chapela was denied tenure because his paper displeased his corporate masters at Berkeley.

Washburn gives many such examples in her book.

And as she tours the country to promote her book, professors are calling her to report other similar stories.

But the damage has been done.

Universities have lost sight of their public mission.

And the extent of the corruption will not be known until the federal government demands complete and total disclosure of all ties between public professors -- those at public universities and those living off of federal research grants -- and private corporations.

A couple of years ago, we visited a friend in Lincoln, Nebraska.

Our friend, who is a recent graduate of the University of Nebraska, toured us the university campus.

We stopped in front of the Cornhuskers football stadium and looked up.

Our friend pointed to the big red "N" atop the stadium, and asked two homeschooled children we were traveling with -- do you know what the "N" stands for?

"What?" the homeschoolers asked.

"Knowledge," our friend replied. (He's a comedian.)

The corporate university takes us for a bunch of idiots.

They want us to believe that it's all about the bottom line -- that it always has been about the bottom line.

But Washburn asks -- what ever happened to knowledge for knowledge's sake?

Read her book and find out.

Russell Mokhiber is editor of the Washington, D.C.-based Corporate Crime Reporter. Robert Weissman is editor of the Washington, D.C.-based Multinational Monitor. Mokhiber and Weissman are co-authors of On the Rampage: Corporate Predators and the Destruction of Democracy (Monroe, Maine: Common Courage Press). This article is posted at http://lists.essential.org/pipermail/corp-focus/2005/000203.html

© 2005 Russell Mokhiber and Robert Weissman

###

 

Envie um comentário sobre este artigo