Confrontando o Império

 

 


Arundhati Roy
27 de janeiro de 2002

Durante o III Fórum Social Mundial em Porto Alegre

Tradução Imediata

Pediram-me para falar a respeito de "Como confrontar o Império". Trata-se de uma pergunta muito ampla, mas eu não tenho respostas fáceis.

Quando falamos em confrontar o "Império", precisamos identificar o que significa "Império". Será que quer dizer o governo dos EUA (e seus satélites europeus), o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio, e as corporações multinacionais? Ou será algo mais do que isso?

Em muitos países, o Império tem feito brotar outras cabeças subsidiárias, alguns subprodutos perigosos – o nacionalismo, o fanatismo religioso, o fascismo e, naturalmente, o terrorismo. Todos eles marchando lado a lado com o projeto de globalização corporativa.

Permitam-me ilustrar o que quero dizer com isso. A Índia – a maior democracia do mundo – está, atualmente, na linha de frente do projeto de globalização corporativa. Seu "mercado" de um bilhão de pessoas está sendo seriamente valorizado pela OMC. A corporativização e a privatização estão sendo bem acolhidas pelo governo e pela elite da Índia.

Não é uma mera coincidência que o Primeiro Ministro, o Ministro do Interior e o Ministro do Desinvestimento – os homens que assinaram o acordo com a Enron na Índia, os homens que estão vendendo a infra-estrutura do país para as corporações multinacionais, os homens que querem privatizar a água, a eletricidade, o petróleo, o carvão, o aço, a saúde, a educação e as telecomunicações são todos membros ou admiradores do RSS. O RSS é a associção hindu de direita, ultra-nacionalista, que tem expressado abertamente admiração por Hitler e seus métodos.

A destruição da democracia está ocorrendo numa velocidade e eficiência de um Programa de Ajuste Estrutural. Enquanto o projeto de globalização corporativa está produzindo rasgos profundos na vida do povo da Índia, a privatização "maciça" e as "reformas" trabalhistas estão expulsando as pessoas para fora de suas terras e de seus empregos. Centenas de agricultores empobrecidos estão cometendo suicídio, consumindo pesticidas. Estão sendo reportadas mortes por inanição em todo o país.

Enquanto a elite se aventura em direção de seus destinos imaginários em algum lugar perto do topo do mundo, os destituídos se encontram numa espiral descendente em direção ao crime e ao caos. Esse clima de frustração e desilusão nacional é o cenário perfeito, conforme nos revela a história, para o crescimento do fascismo.

Os dois braços do Governo Indiano têm feito evoluir uma perfeita ação de pinça. Enquanto um dos braços está ocupado em liquidar o país em pedaços, o outro, para desviar a atenção, está orquestrando um coro de uivos e brados de nacionalismo hindu e fanatismo religioso. Está conduzindo testes nucleares, rescrevendo textos de história, queimando igrejas e demolindo mesquitas. Censura, vigilância e controle, suspensão das liberdades civis e dos direitos humanos, a redefinição de quem é cidadão indiano e quem não é, particularmente com relação às minorias religiosas, tudo isso está se tornando agora uma prática normal.

No último mês de março, no estado de Gujarat, dois mil muçulmanos foram assassinados num progrom patrocinado pelo estado. As mulheres muçulmanas, especialmente, se tornaram um importante alvo. Foram desnudadas, estupradas por gangues, antes de serem queimadas vivas. Incendiários queimaram e saquearam lojas, lares, tecelagens e mesquitas.

Mais de cento e cinquenta mil muçulmanos foram expulsos de suas casas. A base econômica da comunidade muçulmana foi devastada.

Enquanto o Gujarat estava sendo incendiado, o Primeiro Ministro da Índia estava na MTV promovendo seus novos poemas. Em janeiro deste ano, o Governo que orquestrou a matança foi reeleito para tomar a posse, com uma confortável maioria. Ninguém foi punido pelo genocídio. Narendra Modi, orgulhoso membro do RSS que arquitetou o progrom, embarcou no seu segundo termo como Ministro Chefe do Gujarat. Se ele fosse Saddam Hussein, é claro que cada atrocidade teria sido mostrada na CNN. Mas já que não é – e como o "mercado" indiano está aberto para os investidores globais – o massacre não é nem mesmo uma inconveniência embaraçosa.

Há mais de cem milhões de muçulmanos na Índia. Uma bomba-relógio está tique-taqueando em nossa antiga terra.

Tudo isso para dizer que é um mito que o livre mercado destrói as barreiras nacionais. O mercado livre não ameaça a soberania nacional, ele destrói a democracia.

Enquanto cresce a disparidade entre os ricos e os pobres, a luta para tomar posse dos recursos está se intensificando. Para forçar seus "estimados acordos", para tornar corporativas as safras que produzimos, a água que bebemos, o ar que respiramos, os sonhos que sonhamos, a globalização corporativa precisa de uma confederação internacional de governos autoritários, leais e corruptos em países mais pobres que imponham reformas impopulares e reprimam os motins.

A Globalização Corporativa – ou será que deveríamos chamá-la pelo seu verdadeiro nome? – Imperialismo – precisa de uma imprensa que se faça passar como livre. Precisa de tribunais que finjam dispensar justiça.

Enquanto isso, os países do Norte fortalecem suas fronteiras e acumulam armas de destruição em massa. Afinal de contas, eles precisam garantir que somente o dinheiro, as mercadorias, as patentes e os serviços sejam globalizados. Não o livre movimento das pessoas. Não o respeito pelos direitos humanos. Não os tratados internacionais sobre discriminação racial ou armas químicas e nucleares ou a emissão de gases de efeito serra ou a mudança climática, ou – Deus me livre – a justiça.

De forma que – tudo isso – é "império". Esta leal confederação, esse obsceno acúmulo de poder, esta distância incrivelmente aumentada ente aqueles que tomam as decisões e aqueles que sofrem por causa delas.

Nossa luta, nosso objetivo, nossa visão de Um Outro Mundo deve ser aquela de eliminar essa distância.

Portanto, como podemos resistir ao "Império"?

A boa nova é que não estamos indo tão mal. Tem havido importantes vitórias. Aqui na América Latina, vocês têm conquistado várias – na Bolívia, temos Cochabamba. No Peru, houve a revolta em Arequipa, na Venezuela, o Presidente Hugo Chavez está resistindo, apesar dos grandes esforços do governo dos EUA.

E o olhar do mundo está pairando sobre o povo da Argentina, que está tentando remodelar o país das cinzas do estrago provocado pelo FMI.

Na Índia, o movimento contra a globalização corporativa está ganhando força e está decidido a se tornar a única força política real para conter o fanatismo religioso.

Quanto aos reluzentes embaixadores da globalização corporativa – Enron, Bechtel, WorldCom, Arthur Andersen – quem te viu e quem te vê?

E, naturalmente, aqui no Brasil, devemos perguntar… quem era o presidente no ano passado e quem é o presidente agora?

Mesmo assim… muitos de nós enfrentamos momentos sombrios de desesperança e desespero. Sabemos que sob o baldaquino crescente da Guerra Contra o Terrorismo, os homens de terno estão trabalhando duro.

Enquanto as bombas chovem sobre nós e os mísseis cruise deslizam nos céus, sabemos que contratos estão sendo assinados, patentes estão sendo registradas, oleodutos estão sendo projetados, recursos naturais estão sendo saqueados, a água está sendo privatizada, e George Bush está planejando a guerra contra o Iraque.

Se olharmos para esse conflito como um confronto direto e olhos nos olhos entre o "Império" e aqueles entre nós que estão resistindo, poderá parecer que estamos perdendo.

Mas há uma outra forma de olharmos para isso. Nós, todos nós que nos encontramos aqui, cada um a seu modo próprio, assentamos um cerco ao "Império".

Talvez não o tenhamos parado em seus trilhos – ainda – mas conseguimos desnudá-lo. Conseguimos tirar a sua máscara. Conseguimos arrancá-lo para fora. E agora ele está aí, na nossa frente, no palco do mundo, em toda a sua brutal e iníqua nudez.

O Império pode até ir para a guerra, mas agora está exposto – monstruoso demais para encarar seu próprio reflexo. Monstruoso demais até mesmo para reunir seu próprio povo. Não demorará muito para que a maioria do povo americano se torne nossa aliada.

Há apenas alguns dias, em Washington, duzentos e cinquenta mil pessoas marcharam contra a guerra ao Iraque. A cada mês, o protesto se torna mais eloquente.

Antes de 11 de setembro de 2001, a América tinha uma história secreta. Secreta especialmente para o seu próprio povo. Mas agora os segredos da América são história, e a sua história é de conhecimento público. Está na boca de todos.

Hoje, sabemos que cada argumento que está sendo usado para escalar a guerra contra o Iraque é uma mentira. A mais ridícula delas sendo que o Governo dos EUA está seriamente empenhado em levar a democracia ao Iraque.

Matar as pessoas para salvá-las da ditadura ou da corrupção ideológica é, naturalmente, um velho esporte do governo dos EUA. Aqui, na América Latina, vocês sabem disso melhor que ninguém.

Ninguém duvida que Saddam Hussein é um ditador impiedoso, um assassino (cujos piores excessos tiveram o suporte dos governos dos EUA e da Grã-Bretanha). Não há dúvida de que os iraquianos estariam melhor sem ele.

Mas, igualmente, o mundo todo estaria melhor sem um certo Sr. Bush. De fato, ele é muito mais perigoso do que Saddam Hussein.

Então, deveríamos bombardear Bush para fora da Casa Branca?

Está mais do que certo que Bush está determinado a guerrear contra o Iraque, independentemente dos fatos – e independentemente da opinião pública internacional.

Em seu ímpeto de recrutamento de aliados, os Estados Unidos estão preparados para inventar fatos.

A charada com os inspetores de armas é a ofensiva dos EUA, insultando a concessão a algumas formas distorcidas de etiqueta. É come deixar a "porta do cachorro" aberta para a entrada de "aliados" da última hora, ou talvez, para que as Nações Unidas possam rastejar a sua entrada.

Mas, para todas as intenções e propósitos, a Nova Guerra contra o Iraque começou.

O que podemos fazer?

Podemos afiar a nossa memória, aprender com a nossa história. Podemos continuar a conscientizar a opinião pública até que ela se torne um rugido ensurdecedor.

Podemos tornar a guerra contra o Iraque em um aquário dos excessos do governo dos EUA.

Podemos expor George Bush e Tony Blair – e seus aliados – pelos covardes assassinos de crianças, envenenadores de água e pusilânimes bombardeadores a longa distância que são.

Podemos reinventar a desobediência civil de um milhão de maneiras diferentes. Em outras palavras, podemos criar um milhão de modos para nos tornarmos um grande estorvo coletivo.

Quando George Bush diz "ou vocês estão conosco, ou são terroristas", podemos dizer "Não, obrigado." Podemos dizer-lhe que os povos do mundo não precisam escolher entre um Mickey Mouse Malévolo e os Mulás Malucos.

A nossa estratégia deveria ser não somente a de confrontar o império, mas de encurralá-lo. Tirar-lhe o oxigênio. Envergonhá-lo. Ridicularizá-lo. Com nossa arte, nossa música, nossa literatura, nossa teimosia, nossa alegria, nosso brilho, nossa transparente persistência – e nossa habilidade de contar nossas próprias histórias. Histórias que são diferentes daquelas que querem nos forçar a acreditar por meio da lavagem cerebral.

A revolução corporativa desmoronará se nos recusarmos a comprar o que eles estão vendendo – as idéias deles, a versão deles da história, as guerras deles, as armas deles, a noção deles da inevitabilidade.

Lembrem-se disso: Nós somos muitos e eles são poucos. Eles precisam mais de nós do que nós precisamos deles.

Um outro mundo não é só possível, como também já está a caminho. Num dia tranquilo, posso até ouvi-lo respirar.

 

 

-Arundhati Roy

Porto Alegre, Brasil

27 de janeiro de 2003

Confronting Empire

Arundhati Roy

I've been asked to speak about "How to confront Empire?" It's a huge question, and I have no easy answers.

When we speak of confronting "Empire," we need to identify what "Empire" means. Does it mean the U.S. Government (and its European satellites), the World Bank, the International Monetary Fund, the World Trade Organization, and multinational corporations? Or is it something more than that?

In many countries, Empire has sprouted other subsidiary heads, some dangerous byproducts - nationalism, religious bigotry, fascism and, of course terrorism. All these march arm in arm with the project of corporate globalization.

Let me illustrate what I mean. India - the world's biggest democracy - is currently at the forefront of the corporate globalization project.

Its "market" of one billion people is being prized open by the WTO.

Corporatization and Privatization are being welcomed by the Government and the Indian elite.

It is not a coincidence that the Prime Minister, the Home Minister, the Disinvestment Minister - the men who signed the deal with Enron in India, the men who are selling the country's infrastructure to corporate multinationals, the men who want to privatize water, electricity, oil, coal, steel, health, education and telecommunication - are all members or admirers of the RSS. The RSS is a right wing, ultra-nationalist Hindu guild which has openly admired Hitler and his methods.

The dismantling of democracy is proceeding with the speed and efficiency of a Structural Adjustment Program. While the project of corporate globalization rips through people's lives in India, massive

privatization, and labor "reforms" are pushing people off their land and out of their jobs. Hundreds of impoverished farmers are committing suicide by consuming pesticide. Reports of starvation deaths are coming in from all over the country.

While the elite journeys to its imaginary destination somewhere near the top of the world, the dispossessed are spiraling downwards into crime and chaos. This climate of frustration and national disillusionment is the perfect breeding ground, history tells us, for fascism.

The two arms of the Indian Government have evolved the perfect pincer action. While one arm is busy selling India off in chunks, the other, to divert attention, is orchestrating a howling, baying chorus of Hindu nationalism and religious fascism. It is conducting nuclear tests, rewriting history books, burning churches, and demolishing mosques. Censorship, surveillance, the suspension of civil liberties and human rights, the definition of who is an Indian citizen and who is not, particularly with regard to religious minorities, is becoming common practice now.

 

Last March, in the state of Gujarat, two thousand Muslims were butchered in a State-sponsored pogrom. Muslim women were specially targeted. They were stripped, and gang-raped, before being burned alive. Arsonists burned and looted shops, homes, textiles mills, and mosques.

 

More than a hundred and fifty thousand Muslims have been driven from their homes. The economic base of the Muslim community has been devastated.

While Gujarat burned, the Indian Prime Minister was on MTV promoting his new poems. In January this year, the Government that orchestrated the killing was voted back into office with a comfortable majority. Nobody has been punished for the genocide. Narendra Modi, architect of the pogrom, proud member of the RSS, has embarked on his second term as the Chief Minister of Gujarat. If he were Saddam Hussein, of course each atrocity would have been on CNN. But since he's not - and since the Indian "market" is open to global investors - the massacre is not even an embarrassing inconvenience.

There are more than one hundred million Muslims in India. A time bomb is ticking in our ancient land.

All this to say that it is a myth that the free market breaks down

national barriers. The free market does not threaten national

sovereignty, it undermines democracy.

As the disparity between the rich and the poor grows, the fight to

corner resources is intensifying. To push through their "sweetheart

deals," to corporatize the crops we grow, the water we drink, the air we breathe, and the dreams we dream, corporate globalization needs an international confederation of loyal, corrupt, authoritarian governments in poorer countries to push through unpopular reforms and quell the mutinies.

Corporate Globalization - or shall we call it by its name? - Imperialism

- needs a press that pretends to be free. It needs courts that pretend to dispense justice.

Meanwhile, the countries of the North harden their borders and stockpile weapons of mass destruction. After all they have to make sure that it's only money, goods, patents and services that are globalized. Not the free movement of people. Not a respect for human rights. Not international treaties on racial discrimination or chemical and nuclear weapons or greenhouse gas emissions or climate change, or - god forbid - justice.

So this - all this - is "empire." This loyal confederation, this obscene

accumulation of power, this greatly increased distance between those who make the decisions and those who have to suffer them.

Our fight, our goal, our vision of Another World must be to eliminate

that distance.

So how do we resist "Empire"?

The good news is that we're not doing too badly. There have been major victories. Here in Latin America you have had so many - in Bolivia, you have Cochabamba. In Peru, there was the uprising in Arequipa, In Venezuela, President Hugo Chavez is holding on, despite the U.S. government's best efforts.

And the world's gaze is on the people of Argentina, who are trying to refashion a country from the ashes of the havoc wrought by the IMF.

In India the movement against corporate globalization is gathering

momentum and is poised to become the only real political force to

counter religious fascism.

As for corporate globalization's glittering ambassadors - Enron,

Bechtel, WorldCom, Arthur Anderson - where were they last year, and where are they now?

And of course here in Brazil we must ask ...who was the president last year, and who is it now?

Still ... many of us have dark moments of hopelessness and despair. We know that under the spreading canopy of the War Against Terrorism, the men in suits are hard at work.

While bombs rain down on us, and cruise missiles skid across the skies, we know that contracts are being signed, patents are being registered, oil pipelines are being laid, natural resources are being plundered, water is being privatized, and George Bush is planning to go to war against Iraq.

If we look at this conflict as a straightforward eye-ball to eye-ball

confrontation between "Empire" and those of us who are resisting it, it might seem that we are losing.

But there is another way of looking at it. We, all of us gathered here, have, each in our own way, laid siege to "Empire."

We may not have stopped it in its tracks - yet - but we have stripped it down. We have made it drop its mask. We have forced it into the open. It now stands before us on the world's stage in all it's brutish,

iniquitous nakedness.

Empire may well go to war, but it's out in the open now - too ugly to

behold its own reflection. Too ugly even to rally its own people. It

won't be long before the majority of American people become our allies.

Only a few days ago in Washington, a quarter of a million people marched against the war on Iraq. Each month, the protest is gathering momentum.

Before September 11th 2001 America had a secret history. Secret

especially from its own people. But now America's secrets are history, and its history is public knowledge. It's street talk.

Today, we know that every argument that is being used to escalate the war against Iraq is a lie. The most ludicrous of them being the U.S. Government's deep commitment to bring democracy to Iraq.

Killing people to save them from dictatorship or ideological corruption is, of course, an old U.S. government sport. Here in Latin America, you know that better than most.

Nobody doubts that Saddam Hussein is a ruthless dictator, a murderer (whose worst excesses were supported by the governments of the United States and Great Britain). There's no doubt that Iraqis would be better off without him.

But, then, the whole world would be better off without a certain Mr. Bush. In fact, he is far more dangerous than Saddam Hussein.

So, should we bomb Bush out of the White House?

It's more than clear that Bush is determined to go to war against Iraq, regardless of the facts - and regardless of international public

opinion.

In its recruitment drive for allies, The United States is prepared to

invent facts.

The charade with weapons inspectors is the U.S. government's offensive, insulting concession to some twisted form of international etiquette. It's like leaving the "doggie door" open for last minute "allies" or maybe the United Nations to crawl through.

But for all intents and purposes, the New War against Iraq has begun.

What can we do?

We can hone our memory, we can learn from our history. We can continue to build public opinion until it becomes a deafening roar.

We can turn the war on Iraq into a fishbowl of the U.S. government's excesses.

We can expose George Bush and Tony Blair - and their allies - for the cowardly baby killers, water poisoners, and pusillanimous long-distance bombers that they are.

We can re-invent civil disobedience in a million different ways. In

other words, we can come up with a million ways of becoming a collective pain in the ass.

When George Bush says "you're either with us, or you are with the

terrorists" we can say "No thank you." We can let him know that the

people of the world do not need to choose between a Malevolent Mickey Mouse and the Mad Mullahs.

Our strategy should be not only to confront empire, but to lay siege to it. To deprive it of oxygen. To shame it. To mock it. With our art, our music, our literature, our stubbornness, our joy, our brilliance, our sheer relentlessness - and our ability to tell our own stories. Stories that are different from the ones we're being brainwashed to believe.

The corporate revolution will collapse if we refuse to buy what they are selling - their ideas, their version of history, their wars, their

weapons, their notion of inevitability.

Remember this: We be many and they be few. They need us more than we need them.

Another world is not only possible, she is on her way. On a quiet day, I can hear her breathing.

 

-Arundhati Roy

Porto Alegre, Brazil

January 27, 2003

Arundhati Roy of India is the author of the acclaimed novel The God of Small Things (Harper-Perennial, 1997). Her non-fiction books are The Cost of Living (Modern Library, 1999) and Power Politics (South End Press, 2001). She is a leading anti-war and anti-corporate globalization activist. This commentary was first broadcast on Radio 4's Today program in the UK.

 

 

Envie um comentário sobre este artigo