1 - O que é Poesia Visual para você?
Poesia Visual é a poesia imagética presente em vários mo(vi)mentos das vanguardas históricas, desde o Simbolismo (1886), passando pelo DADA (1916), Surrealismo (1924), Espacialismo (1946), a certas vertentes da Poesia Concreta, como o Neo-Concretismo (1959). Como movimento expressamente Conceitual e Factual, manifesta-se nos sessenta através da Poesia Visiva Italiana (1963) e da POEX Portuguesa (1965). No Brasil, essa tendência vem expressar-se materialmente através do movimento do Poema/Processo (Natal-Rio de Janeiro, 1967). Durante os setenta, esta forte tendência da poesia como imagem conceitual é praticada em massa através do movimento internacional da Arte/Correio (Mail Art). Na atualidade, estas poéticas de invenção estão incursionadas no Processualismo da Multimedia e da InfoArt, o que se caracteriza como Poesia Viva.
2 - Quais foram e/ou são as suas fontes de inspiração, seus modelos (poetas ou movimentos artísticos) neste meio poético?
As minhas fontes de inspiração remontam ao início dos sessenta, quando inventei o meu primeiro poema – "Ilha", um envelope costurado à mão pela minha avó Maria Guedes Alcaforado, em Belém, na Paraíba - a palavra "Ilha" estava lá no fundo do envelope branco, "bem dentro"; influências cosmológicas, onde eu nasci, num solar mal-assombrado... Foi ditado em sonho. Depois, aos oito anos de idade, no ano do Movimento do Poema/Processo, vim morar em Natal. Criei um alfabeto com signos próprios, e uma bandeira, onde eu egoticartesianamente me sentiria uma "Nação" e finalmente conheci o Poema/Processo, donde tive influências de Anchieta Fernandes, Wlademir Dias Pino, Falves Silva, Moacy Cirne; e sobretudo, do Álvaro de Sá, donde eu abandono o meu alfabeto poético de infância e me aproprio do seu poema/processo "Alfabismo", permitindo-me inúmeras versões. Em seguida, no final dos setenta veio a Arte/Correio e depois, os Multimedia, dos quais me utilizei, como o vídeo/poema "Galáxias", em parceria com o astrofísico Joel Carvalho, uma "versão estrutural", como definiu o autor do poema, Haroldo de Campos. A minha poética é uma "poética da leitura", como previu Jorge Luiz Borges.
3 - Porque você escolheu ou gosta de produzir Poesia Visual como um dos seus meios de expressão artística?
A Poesia Visual, como meio de expressão artística, é a linguagem da Post-Contemporaneidade!... Ela possui linguagem própria, agindo no território artisticonceitual...
4 - Desde quando você adotou a Poesia Visual como forma de expressão?
Desde o momento (1964) em que me senti ilhado, num sótão, a ver uma
cordilheira azul diante da janela aberta à "Pedra do Cordeiro" em Belém, na Paraíba, tinha eu seis anos de idade, e já me sentia um homem exilado, dentro do meu próprio país. Daí a inspiração à invenção da/do "Ilha", do poeta, fora do contexto, do senso comum, ilhado na mediocridade; o contra-senso do senso, absurdamente anímico.